22.4.06

Campeões, campeões

21.4.06

You never can tell

UE: Novo escândalo financeiro

Os não-desempregados

Sobre a notícia de hoje no DN, Francisco Madelino, presidente do Instituto do Emprego e Formação Profissional, fez alguns comentários (RR):

"Começa por ser um bocado ridículo que, num país onde há duas bases de dados para gerir o desemprego, o que é um caso único, o Governo e as duas instituições - a Segurança Social e o Instituto de Emprego e Formação Profissional - façam um esforço de maior articulação e modernização e que, ao encontrarem pessoas que estão a fazer contribuições, mas que estão simultaneamente inscritos do lado do IEFP como desempregados, essa passagem de pessoas seja entendida como manipulação ou limpeza de ficheiros", afirma.

Contestando a notícia, Francisco Madelino diz que os números provam que o cruzamento de dados com a Segurança Social tem sido eficiente.

"Em 2004, foram anulados por vários mecanismos de controlo em Portugal cerca de 470 mil desempregados - quase meio milhão de portugueses. Em 2005, e esta metodologia tem vindo a ser implementada desde Junho, por estes mecanismos que foram utilizados também outras vezes no passado, e bem, foram anuladas «apenas» mais 20 mil pessoas"

Porque não questionar a necessidade de o estado continuar a funcionar como uma agência de emprego?

The Truth About 9/11 Conspiracy Theories

It's not as if there's a shortage of sources debunking Sept. 11 conspiracy theories. PBS aired programs that examined both the building of the World Trade Center and its collapse. The State Department put out a series of detailed reports directly addressing various Sept. 11 conspiracy theories. Popular Mechanics published an eminently useful article last year that went down the list of every conceivable Sept. 11 conspiracy talking point -- and debunked them all. Author and Skeptic magazine publisher Michael Shermer also touched on the matter in an article for Scientific American. Then there's the small matter of al Qaeda having admitted several times to perpetrating the Sept. 11 attacks.

It would be comforting to think that such information would have an impact on the Sept. 11 conspiracists -- but, alas, true believers are rarely moved by facts that contradict their preconceived notions.

(...)

The underlying factors likely have more to do with psychology. Indeed, it is often said that conspiracy theories are born out of a sense of powerlessness. In the wake of Sept. 11 and the emergence of the nihilistic threat of Islamic terrorism, feelings of impotence and vulnerability were all too natural. All Americans were affected by such fears. But instead of facing the daunting truth, the Sept. 11 conspiracy theorists chose the path of denial.

Immersed in a political belief system in which the United States (and Israel) is always the bad guy and never the victim, adherents refuse to give credence to any development that does not fit this narrative. So rather than blaming the perpetrators, they fall back on familiar demons. After all, an enemy one can grapple with is much more appealing than the unknown. Such beliefs offer the tantalizing possibility that there's an explanation for a reality that all too often seems incomprehensible.

Top 10 conspiracies from the Arab and Iranian press this season

1) Israel created the avian flu virus in order to damage "genes carried only by Arabs," a January 31 column by Abd Al-Rahman Ghunwym in a Syrian government daily, Al-Thawra, said. Another possibility given was that the virus was created to attack "the yellow race - especially in China and Vietnam" that are "rising powers" threatening "American hegemony over the world."
No MEMRI.

PS: Está bate a do Rui por K.O.

(via The Guest of Time)

20.4.06

Playing Ahmadinejad

"You know what´s great fun to do if you´re on, say, a flight from Chicago to New York and you´re getting a little bored? Why not play being President Ahmadinejad? Stand up and yell in a loud voice, "I´ve got a bomb!" Next thing you know the air marshal will be telling people, "It´s OK, folks. Nothing to worry about. He hasn´t got a bomb." And then the second marshal would say, "And even if he did have a bomb it´s highly unlikely he´d ever use it." And then you threaten to kill the two Jews in row 12 and the stewardess says, "Relax, everyone. That´s just a harmless rhetorical flourish." And then a group of passengers in rows 4 to 7 point out, "Yes, but it´s entirely reasonable of him to have a bomb given the threatening behavior of the marshals and the´ cabin crew."
(via Johan Norberg)

Sobre os Círculos Uninominais

Coincidências petrolíferas

Abandon all hope

Interpelado pela bloquista Mariana Aiveca, Santos Silva reiterou ainda que não haverá despedimentos na função pública, mas apontou como "essencial" a mobilidade dos funcionários.
Cada vez estou mais convencido que os únicos resultados da propangandeada "reforma da Administração Pública" vão ser umas quantas mudanças de logotipos e a movimentação de funcionários entre edifícios (que contribuirá para aumentar o habitual caos organizativo).

Ficarão a ganhar umas quantas empresas de mudanças e gráficas.

[fonte: Diário de Notícias]

Quem me dera...

Numa interpelação parlamentar, pedida pelo PCP para debater as condições de prestação e o acesso aos serviços essenciais, Bernardino Soares, líder parlamentar comunista, acusou Sócrates de querer transformar o "Estado social num Estado liberal".
[fonte: Diário de Notícias]

Mercado de trabalho português limita criação de emprego

Apesar das recentes alterações na legislação do trabalho terem vários aspectos louváveis, escreve a OCDE, o enquadramento do mercado de trabalho permanece «muito restritivo» e com «procedimentos pesados».

A organização argumenta que vários estudos provam que as barreiras à mobilidade do trabalho inibem a criação de postos de trabalho permanentes, prolongam o desemprego e impõem um ritmo mais lento à inovação das empresas.
[fonte: Diário Digital]

Leitura recomendada (II)

Parece que o quadro existente não deveria oferecer dúvidas: está em curso uma jihad contra o Ocidente, da qual, como subobjectivo específico, até consta a reconquista do Al-Andalus para o Islão. Em nome dela, foi possível um atentado que influenciou decisivamente umas eleições europeias. O Presidente de um dos grandes países islâmicos acredita na chegada iminente do "12.º imã" (aquele que virá no fim dos tempos, imediatamente depois do caos universal), ao mesmo tempo que se sentiu envolvido por uma aura quando discursou na ONU. É esse mesmo Presidente que não desiste de fabricar a bomba atómica, enquanto promete destruir Israel, o lar judaico na Palestina. Ainda estão frescas as palavras de Zacharias Moussaoui (o único sobrevivente do atentado de 11 de Setembro de 2001), regozijando-se com o sofrimento registado pelas gravações dos passageiros do voo 93 (que embateu nas Torres Gémeas) e afirmando o seu desejo de que houvesse um "12, 13 ou 14 de Setembro" todos os dias, até à total destruição da América. O padrão é claro, mas há quem continue a pregar a "compreensão". Que há "razões de queixa" contra o Ocidente e que essas razões de queixa nos deviam levar a "compreender" o ódio contra o Ocidente. Quem fez os atentados de 11 de Março, sabendo que no dia seguinte haveria menos um contingente militar no Iraque, "compreende-nos" muito bem. Só nós é que somos mesmo de compreensão lenta.

Leitura recomendada

Rebuscado

North Korea has charged the United States with counterfeiting its own currency and shifting the blame to Pyongyang, adding artists with "blood-shot eyes" in Japan are making cartoons attacking Pyongyang's leaders.

A spokesman for the Ministry of People's Security said in a statement the North had obtained "shocking evidence" Washington and Tokyo are producing false material that gives the impression Pyongyang is a criminal state [!!!], the North's KCNA news agency said late Wednesday.
Só não percebo é a razão dos EUA usarem um plano tão rebuscado para provar que a Coreia do Norte é um estado criminoso!

[via Willisms]

Se

A má notícia

Pontos de Fuga



Ao que parece, um porta-voz do Jihad Islâmico afirmou que o atentado cometido foi uma "resposta aos massacres israelitas e ao cerco imposto ao povo palestiniano". O Movimento de Resistência Islâmica (Hamas), que recentemente se transvestiu em governo palestiniano para gáudio de muitos quantos escrevem sobre o Médio Oriente, veio culpar Israel pela "agressão". "A ocupação israelita é a responsável por esta situação, que é uma consequência de seus crimes", disse o porta-voz Sami Abu Zhuri. ###

O governo eleito, ao que se supõe democraticamente, preferiu não condenar, nem sequer disfarçadamente, o ataque ocorrido. E nem precisa de o fazer, que ninguém iria acreditar, pensarão alguns. Mas a verdade é que uma rápida olhadela pelos jornais e televisões deste Mundo e logo nos apercebemos da realidade. O Hamas não é visto como uma organização terrorista, mas antes como guerrilheiros da paz ou qualquer coisa poética que disfarce os crimes e acomode a consciência de quem escreve. Lembro-me de uma reportagem na Revista do Expresso, sobre o Hamas, em que nas 4 ou 5 páginas carregadas de texto, a palavra terrorismo apareceu zero vezes.

Raramente se escreve, por exemplo, que a maioria dos refugiados palestinianos foram obrigados a abandonar as suas terras porque os exércitos árabes invadiram Israel e a Palestina em 1948. Raramente se explica por que razões os países árabes se recusam a integrar os refugiados. Raramente se assume que é nos campos de refugiados que se recrutam, treinam e acolhem terroristas. Raramente se relata a propaganda anti-semita que obsessivamente é propagada por todo o Médio Oriente, com o dinheiro que supostamente serviria para construir a paz.


Raramente se escreve sobre o que sucede aos criminosos que engendram os ataques terroristas e que continuam na sua mais plena liberdade. Raramente se vai a fundo na vida em Israel, não vá ter que se contar que os árabes que lá vivem gozam de direitos, privilégios e oportunidades que em mais nenhum outro estado da região podem almejar. Raramente se tantou seguir o trilho aos milhões que a Autoridade Palestiniana recebeu, porque a verdade é que não parece que estes tenham chegado às ruas da Cisjordânia e de Gaza. Raramente se analisavam os discursos entre o que a Autoridade Palestiniana dizia em árabe e as declarações pacifistas para o Mundo ver.


Não posso nem tenho sequer pretensões de afirmar que este conflito tem apenas um vítima e um agressor. O que posso e devo fazer é tentar perceber e demonstrar isso mesmo. Mesmo que o jornalismo de causas, como descrevia o Pacheco Pereira, prefira simplificar e mastigar a propaganda que lhe vendem nas páginas do Le Monde Diplomatique.

O homem que era quinta feira

Two clocks are ticking in Iran: the nuclear clock and the democracy clock. The strategic objective of western policy must be to slow down the nuclear clock and to speed up the democracy clock. Our problem is that some of the things we might do to slow down the nuclear clock are likely to slow down the democracy clock as well.
A intuição de Garton Ash está correcta: o tempo é o factor crucial. Quanto ao resto, é uma mistura de equívocos e de optimismo injustificado. No início deste ano a República Islâmica do Irão retomou abertamente os seus programas nucleares. Nesse momento começou a contagem decrescente do tempo disponível para a obtenção de uma solução aceitável em termos de segurança internacional.

É difícil dizer quanto tempo resta, mas é imperativo frustrar as ambições dos governantes iranianos e parar o relógio nuclear iraniano. Sucede que esse não é o único relógio em contagem decrescente. Se calhar nem sequer é o mais importante.###

O relógio nuclear
O enriquecimento de urânio por centrifugação para fins civis ou militares é conseguido através do mesmo processo tecnológico. O urânio natural contem menos de 1% de U-235 —o isótopo “interessante” do ponto de vista da fissão nuclear; o urânio enriquecido para a produção de energia, à volta de 5%; o urânio utilizável para fins militares cerca de 90%. Uma vez conseguida a separação dos isótopos, é uma questão de ligar mais e mais rápidas centrifugadoras, até se obter o urânio com a qualidade necessária à produção de armas nucleares. Aparentemente, a baixa fiabilidade dos materiais das centrifugadoras garante ainda um pouco do bem precioso —tempo. No entanto, ninguém minimamente responsável duvida das intenções bélicas dos líderes iranianos, ou atribui qualquer valor às “garantias” de que o urânio enriquecido se destina exclusivamente à produção de energia.

É também extremamente perigoso supor que os fanáticos religiosos que controlam o poder político em Teerão se limitarão a beneficiar do valor estratégico da dissuasão nuclear. A combinação do fanatismo religioso de Ahmadinejad e correligionários, com as ambições geopolíticas iranianas gera indicações crescentes e muito preocupantes de que o Irão tenciona usar a arma nuclear.

Os líderes iranianos, cultivam uma sinistra estética do martírio, onde a vida humana tem um valor puramente instrumental como antecâmara do paroxismo sacrificial. O episódio das 500 000 chaves de plástico, relatado por Matthias Küntzel esclarece até onde pode ir este fanatismo revolucionário:
During the Iran-Iraq War, the Ayatollah Khomeini imported 500,000 small plastic keys from Taiwan. The trinkets were meant to be inspirational. After Iraq invaded in September 1980, it had quickly become clear that Iran's forces were no match for Saddam Hussein's professional, well-armed military. To compensate for their disadvantage, Khomeini sent Iranian children, some as young as twelve years old, to the front lines. There, they marched in formation across minefields toward the enemy, clearing a path with their bodies. Before every mission, one of the Taiwanese keys would be hung around each child's neck. It was supposed to open the gates to paradise for them.

At one point, however, the earthly gore became a matter of concern. "In the past," wrote the semi-official Iranian daily Ettelaat as the war raged on, "we had child-volunteers: 14-, 15-, and 16-year-olds. They went into the minefields. Their eyes saw nothing. Their ears heard nothing. And then, a few moments later, one saw clouds of dust. When the dust had settled again, there was nothing more to be seen of them. Somewhere, widely scattered in the landscape, there lay scraps of burnt flesh and pieces of bone." Such scenes would henceforth be avoided, Ettelaat assured its readers. "Before entering the minefields, the children [now] wrap themselves in blankets and they roll on the ground, so that their body parts stay together after the explosion of the mines and one can carry them to the graves."
Estas crianças faziam parte da milícia Basij Mostazafan (mobilização dos oprimidos) criada por Khomeini em 1979. Durante a guerra com o Iraque, mais de 450 000 foram enviados para a frente de combate; mais de 100 000 morreram:
At the beginning of the war, Iran's ruling mullahs did not send human beings into the minefields, but rather animals: donkeys, horses, and dogs. But the tactic proved useless: "After a few donkeys had been blown up, the rest ran off in terror," Mostafa Arki reports in his book Eight Years of War in the Middle East. The donkeys reacted normally—fear of death is natural. The Basiji, on the other hand, marched fearlessly and without complaint to their deaths.
Ahmadinejad está há muito ligado a esta milícia, em franca expansão e cuja acção foi decisiva na sua eleição em 2005. Se a obediência fanática com que marcham alegremente para a morte é difícil de compreender, as implicações estratégicas deste tipo de atitude para a dissuasão nuclear percebem-se facilmente e são extremamente importantes: ela muda radicalmente a natureza do cálculo racional associado ao uso da arma nuclear. Os custos humanos associados a uma eventual retaliação são menosprezados e isso diminui substancialmente o efeito de dissuasão. No limite, não há dissuasão possível que detenha uma liderança política convencida que um apocalipse nuclear propiciará o regresso do imam oculto.

Mas também há quem garanta que a retórica de Ahmadinejad está a ser mal interpretada e que o regime iraniano não pretende atacar Israel, nem ceder armamento nuclear a organizações terroristas que o possam usar contra os EUA ou a Europa. É possível. Na verdade, Ahmadinejad tem estado ocupado a reactivar uma variedade de organizações shiitas em quase todos os países do Médio Oriente, incluindo o Egipto.

Uma vez mais a metáfora dos relógios é perigosamente enganadora: o programa nuclear iraniano poderá já ter colocado não um mas vários cronómetros nucleares em contagem decrescente. Num artigo publicado no jornal árabe Asharq Alawsat, Abdul Rahman Al-Rashed (director da televisão Al –Arabiya), expõe o problema:
The governments of the region did not believe Iran before, and they will not believe it in the future when it admits that it possesses a nuclear weapon, claiming that it is aimed against Israel only. In the past it has previously used military force to attack Kuwait, Saudi Arabia, and the United Arab Emirates and occupied the last of its islands in 1991. It had also intercepted Qatari warships in the Gulf waters. It is no secret that it also has a hand in the security problems in Bahrain, in addition to its exposed activity in Iraq.(…) [W]e know that there is no other option to deal with Iran, which is armed with nuclear weapons, except through the same balance of terror, which guarded the situation among Moscow, Beijing, and the West, and now between Karachi and New Delhi. We also know that the Pakistanis could not have developed, produced, and maintained their weapon had the West not accepted this in reply to the Indian nuclear weapon and as a deterrence to it. Based on this formula of balance, what if Riyadh, as a representative of the Gulf region, mounted a nuclear weapon facing Iran? Would this be enough? Here, Egypt will demand the same thing, taking into consideration that it is a central state in the region and is important in the military balance with Iran and Israel as well.
A obsessão de muitos europeus com o imperialismo americano, impede-os de reconhecer o óbvio: ao longo de quase trinta anos de revolução, a República Islâmica do Irão deixou muito claras as suas ambições imperialistas, desestabilizando a generalidade dos estado árabes do Médio Oriente, através de constantes ataques militares e acções terroristas. Ninguém no seu juízo perfeito poderá imaginar que a obtenção de armas nucleares pelo Irão deixará egípcios e sauditas tranquilamente sentados em cima dos polegares, aguardando o destino que Teerão lhes reservar. A haver uma bomba persa, as bombas nucleares sauditas e egípcias não tardarão. E assim se escreve mais um glorioso capítulo na história da não proliferação nuclear.

Diplomacia e acção militar
A ideia de impor um bloqueio económico ao Irão é a pior estratégia possível: o bloqueio alienará a base de apoio político pró-ocidental no Irão, fortalecerá o apoio nacionalista ao regime transferindo o ónus da miséria iraniana para o “inimigo externo” e gerará corrupção na competição pelas rendas económicas decorrentes das restrições ao comércio. Em suma, terá todos os potenciais efeitos negativos de uma acção militar, sem rigorosamente nenhum dos benefícios.

Teoricamente seria possível uma outra solução diplomática: a criação de mecanismos institucionais que possibilitem aos estados que pretendem dispor de energia nuclear a aquisição de urânio enriquecido a níveis não utilizáveis para fins militares com obrigatoriedade de devolução. O acordo nuclear entre os EUA e a Índia poderia ser um ensaio para um modelo duplamente generalizável: a outros produtores de urânio enriquecido e a outros países interessados na respectiva utilização, constituindo-se um pseudo-mercado internacional. Mas a probabilidade de o Irão aceitar a suspensão imediata e indefinida do programa nuclear, contra a possibilidade de futura inclusão entre os potenciais utilizadores de urânio enriquecido num sistema que ainda não existe é nula.

Resta manter a pressão política internacional e preparar a solução de último recurso, na eventualidade dos esforços diplomáticos não produzirem o ansiado milagre à 25ª hora: a acção militar contra as instalações nucleares. A simples menção do assunto lançou imediatamente os pacifistas ocidentais num crescendo histérico, exigindo a abdicação unilateral por parte do ocidente da possibilidade do uso da força militar contra o Irão. A publicação da mais recente desonestidade de Seymour Hersh tinha precisamente esse objectivo, mencionando a existência de “planos” no tom lunático e conspiratório do costume e juntando à história a sugestão de que os planos poderiam envolver a utilização de armas nucleares —sempre recomendável para “nivelar” o terreno moral.

Em primeiro lugar, a sugestão de que as instalações nucleares iranianas só podem ser inutilizadas com armamento nuclear é falsa. Em segundo lugar, a “exigência” pacifista revela pura ignorância estratégica: a ameaça credível do uso da força pode ser a única forma de evitar ter de o fazer; por outro lado, a promessa de não recorrer à força militar incentiva o Irão a prosseguir, imperturbável, os programas nucleares e não é credível. Esta conjunção poderá tornar o uso da força inevitável. Os pacifistas foram sempre extremamente eficazes a provocar guerras. Por aí, também nada de novo. Ainda bem que Hersh garante que há “planos.” Ficaria muito preocupado se não houvesse: depois das campanhas de bombardeamento dos Balcãs e das operações militares na Somália fiquei farto de amadores incompetentes. Daí a ser necessário colocá-los em prática vai (ainda) uma razoável distância.

O relógio da democracia
Do lado americano também há ilusões. A “promoção” da democracia não tornou o mundo mais seguro e o executivo de George W. Bush precisa urgentemente de compreender um dos erros estratégicos fundamentais do Iraque: a convicção que do vácuo do poder subsequente ao derrube da tirania de Saddam emergiria necessariamente uma democracia liberal. Não há nenhuma garantia de que o derrube de uma tirania produza um regime político aceitável e mesmo que houvesse ninguém concedeu aos EUA a prerrogativa de decidir sobre as formas de governação de outros países do mundo.

Quanto mais cedo os americanos deixarem de misturar o objectivo insensato de “mudança de regime” com argumentos geopolíticos sólidos, melhor para todos, incluindo os iranianos. Infelizmente, há poucas indicações positivas: a diáspora iraniana é bastante activa nos EUA e o executivo americano parece estar disposto a gastar dinheiro para “acelerar” o relógio da democracia.

Não há nenhum relógio da democracia: a evidência disponível sugere que a oposição política iraniana está no seu ponto mais baixo de sempre e que o apoio ao regime entre os mais pobres é elevado e crescente. Os Basiji, têm a sua base de recrutamento neste segmento populacional. Foi graças a eles (e alguns “milagres “ eleitorais de última hora) que Ahmadinejad foi eleito presidente. Leia-se o que Christopher de Bellaigue escreveu recentemente para a New York Review of Books:
US officials have portrayed the Islamic Republic and its citizens as being monolithically opposed to one another. Again, this view is inaccurate. Iran's conservative leaders have presented their refusal to give up a fuel cycle program as an act of resistance against foreigners' efforts to deprive Iran of its rights. The success of this approach was apparent on February 11, when President Ahmadinejad addressed a huge crowd, estimated by foreign news agencies to number several hundred thousand people, that had gathered to celebrate the anniversary of revolution. It was the biggest such crowd in years. Sentiments in favor of the regime and strongly opposed to the US are stronger now than at any time since I first visited Iran, in 1999.
Entre a opinião de alguém que passou a maior parte dos últimos 10 anos no Irão e o wishful thinking de expatriados que há décadas não põem lá um pé, não é difícil escolher. Este estado de coisas tem um lado favorável: é escusado preocuparmo-nos excessivamente com o “efeito psicológico” de animosidade contra o ocidente de uma acção militar, caso venha a ser necessária. Além disso, ao manter a pressão política e a ameaça militar sobre o Irão isso obriga o regime teocrático a concentrar toda a atenção no programa nuclear, desviando recursos para a sua única “tábua de salvação” — a bomba. Ao fazê-lo dará à oposição interna a melhor oportunidade de se organizarem: tentar parar o cronómetro nuclear pode ser a única forma legítima de acelerar a queda do regime.

O relógio oculto
Por último há que avaliar outras duas sugestões frequentes: que o programa nuclear iraniano é uma resposta à última fase da guerra do Iraque e que os EUA o estarão a acelerar.

A primeira sugestão é flagrantemente falsa: o programa nuclear iraniano começou na década de 70, ainda sob o domínio de Reza Pahlevi, foi interrompido na década de 80 por Khomeini, e retomado em 1994. Desde então tem sido um objectivo prioritário do regime. Veja-se, por exemplo este artigo do New York Times, ou a excelente biografia de A Q Khan publicada em Novembro de 2005 pela Atlantic Monthly.

Quanto aos efeitos estratégicos mútuos, é interessante colocar a questão ao contrário: e se for a corrida nuclear iraniana que está a acelerar a estratégia americana? Os iranianos estão a usar um jogo diplomático muito perigoso, misturando anúncios bombásticos com pequenas cedências. Amir Taheri sugere que estas manobras da diplomacia persa ainda reservarão algumas surpresas até 2008, nomeadamente inversões súbitas e inesperadas. Porquê? Porque é o ano em que George W. Bush, o único adversário que verdadeiramente receiam, deixará a Casa Branca e antes de 2008 não esperam completar o primeiro ciclo de enriquecimento de urânio.

O terceiro relógio, o relógio oculto, é político: trata-se da eleição presidencial americana e poderá muito bem vir a ser o decisivo. A ameaça do uso da força militar tem de ser credível; não precisa de ser iminente. Mas se a mão presidencial “tremer” e George W. Bush não pretender deixar o problema nuclear iraniano como legado para o próximo presidente, isso pode precipitar os acontecimentos. Era aconselhável que os diplomatas persas, vaidosos e condescendentes, prestassem atenção a um conhecido poema de W. H. Auden (Funeral Blues), em particular aos dois primeiros versos:

Stop all the clocks
Prevent the dogs from barking with a juicy bone.

Se os relógios nucleares e políticos continuarem a sua marcha, o funeral pode muito bem ser o deles.

Temos queda para a coisa

Mais uma para o Big Brother

Hoje às 19:45 em Aveiro

Não há mesmo pachorra (2)

Fiquei a saber que o objecto mais esquecido pelos passageiros do Eurostar, o comboio que liga Inglaterra e França através do túnel da Mancha, é O Código Da Vinci.

(...)

Deixar O Código Da Vinci a meio é um sinal inequívoco de que os gostos literários europeus estão a tornar-se cada vez mais requintados.

Não há mesmo pachorra

Deus Caritas Est

O mundo tem necessidade de que, na Igreja, todos prestemos a nossa melhor lealdade à sua missão de serviço, comprometidos com a verdade. Para isto, contamos agora com o Papa Bento XVI que, além das suas qualidades bem conhecidas, nos oferece especialmente o testemunho firme da fé neste nosso Deus que é Amor.

Expansão Blasfema

Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor 2006

21 de Abril às 18h30 - Mesa Redonda: Weblogs: o autor/editor

Local: Biblioteca Municipal Central – Palácio Galveias - Entrada livre

Com moderação da imprescindível Miss Pearls e a participação de:
- Francisco José Viegas , Origem das Espécies
- Catarina Campos do 100 nada , Devagares , do babyblog O meu filho e eu e da Sociedade Anónima.
- João Villalobos, autor do blog Prazeres Minúsculos
- Rui Branco, autor do blog Adufe
- Ana Cláudia Vicente, proprietária do Quatro Caminhos e co-autora do Amigo do Povo

19.4.06

Primeiro Aniversário

circulo vicioso (II)

O Erro de Fukuyama

A Europa Ocidental pós-queda do Muro adormeceu anestesiada pelo seu próprio conforto, convencida que o modelo político prevalecente seria capaz de assegurar eternamente a prosperidade e o progresso. Fukuyama (Fim da História e o Último Homem) avalizava este estado de espírito, sentenciando que uma pretensa "democracia liberal" teria vencido a dialéctica mantida com o marxismo: esta síntese marcaria o "ponto terminal da evolução ideológica" e o modelo político ocidental representaria a "forma final de governo humano". A Humanidade teria agora que se concentrar, apenas, no aperfeiçoamento do modelo vencedor, supostamente capitalista.

Longe de serem "liberais", parte das democracias ocidentais mergulharam nos seus enganos, convictas que por via de amplos consensos e de leis prescritivas – a que se foi dando dignidade constitucional – se poderia conformar toda a realidade. Esta "cosmovisão", fortemente focalizada no universo político, está a desagregar-se a um ritmo acelerado. Em particular, a ideia conservadora do assistencialismo, auto-justificada durante décadas por "fórmulas explicativas" assentes nas virtudes postulares e redentoras do "Todo", já não consegue esconder as suas contradições; começa a constatar-se não ser possível reconciliar aquilo que para várias gerações parecia fazer sentido: afinal, o "Todo" não é capaz de solucionar os problemas das "Partes". A queda destes "muros" que ainda persistem explica o clima que se vive em França e numa boa parte da Europa.
###
Vejamos,

Desde os anos 60 o factor trabalho tem vindo a ser excessivamente protegido nestes países que não permitem que este seja remunerado no mercado em função do seu valor real. Como bem refere Murray Rothbard (Man, Economy and State with Power and Market), os empreendedores só adquirem no presente os factores de produção que lhes permitam criar produtos que, potencialmente, possam ser transaccionados no futuro com um dado ganho; ora, na Europa, o trabalho perdeu a sua natureza pura de factor de produção: na perspectiva do trabalhador, passou a ser um direito, canonizado e protegido artificialmente por via legal; para o empreendedor, representa um encargo adicional para lá do custo necessário para a estrita produção do bem; os incentivos que resultam deste quadro conduzem a que muitos trabalhadores, em vez de se concentrarem na sua valorização, prefiram canalizar os seus esforços para as conquistas legais, negociando as suas recompensas na arena política; a excessiva protecção do trabalho conduziu à destruição da qualificação efectiva de uma parte significativa desta mão-de-obra. Os empreendedores, por seu lado, começaram a encontrar, em grande escala, noutras zonas do globo, formas de combinar os distintos factores de produção de um modo mais rentável.

As retóricas políticas que vivem da resistência à mudança protestam e queixam-se do "dumping social", da "violação de direitos sociais", de "retrocessos civilizacionais"; só que é outra e bastante mais simples a raiz da agonia da França e de algumas economias ocidentais: dificuldade em encontrar força de trabalho que seja apta a gerar valor. Os jovens e menos jovens optaram por ocupar "a rua" de Paris, tão amada por Negri, exigindo mais uma vez que a resolução dos seus problemas nasça da esfera do político, no suave regaço da Lei, persistindo em apostar na receita milagreira que os persegue desde a Revolução Francesa: os problemas são sempre – e apenas – ultrapassáveis pelo "Todo", pelo Estado, esse ente para onde projectam todas as aspirações e de quem se esperam performances que não estão ao alcance dos simples seres humanos, como a eliminação do risco, da incerteza, e a garantia da segurança.

O que move o mundo são os indivíduos e a sua enorme vontade de criar. A globalização ampliou o jogo da economia para uma escala planetária; as sociedades estão mais abertas do que nunca, sendo altamente delicada a arte da previsão. Estamos assim muito longe de conseguir antecipar o que a História nos reserva. Há que saber conviver com o risco e com a incerteza, acompanhando o ritmo das mudanças. O novo século joga-se na descoberta constante das suas regras: quem jogar adequadamente, sairá vencedor. Quem não for a jogo, ficará necessariamente mais pobre.

Rodrigo Adão da Fonseca

["O Erro de Fukuyama" foi originalmente publicado na Dia D, de 17 de Abril de 2006, revista que acompanha o jornal Público às segundas-feiras; estám também disponível no Blue Lounge].

ciclo vicioso

Santos Cabral não vai ser ouvido no Parlamento, como pretendia o PSD, uma vez que o PS votou contra a audição do ex-director da PJ na Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias.

Enfim, o costume. Se o ciclo político fosse outro, seria o PSD a votar contra e o PS a solicitar a audição.
No Bloguítica.

Welfare downunder

In a speech to the Menzies Research Centre, Mr Howard offered no new policy directions, but defended the welfare system against critics of "middle-class welfare". (...)
Rejecting welfare and tax cuts such as those proposed by Sydney's right-wing Centre for Independent Studies think tank, he said Australians wanted a government that was "lean but not mean".(...)
"I have never seen economic liberalism as an end in itself or a stand-alone political credo," Mr Howard said. "A country, as Edmund Burke observed, 'is not a thing of mere physical locality'. Nor is it just individuals in a market place.

[via The Age]
O "CIS" lançou recentemente um livro onde propõe alterações ao sistema fiscal e de assistência social na Austrália.

Revisão constitucional

«Cada revisão é uma revisão à direita porque a Constituição começou tão à esquerda que não só não tinha nada a ver com o país como não tinha nada a ver com o futuro», afirmou Marcelo Rebelo de Sousa(...)
Para o ex-líder do PSD (...) na agenda da próxima revisão constitucional deverão constar um maior realismo nos direitos económicos, sociais e culturais, a eliminação de disposições constitucionais transitórias, que já não fazem sentido, bem como a simplificação da linguagem da Lei fundamental.

[via PD]

Trade, not aid

O preço do petróleo

Ordem, Liberdade e Estado em Lisboa

Aveiro - 20 de Abril - 19:45

Blog recomendado

Genial

Agora que, finalmente, os manuais escolares vão ter um tempo de vida mais longo, só falta mesmo que as pessoas tenham mais do que um filho, para que a medida possa ter alcance.
(via maradona)

18.4.06

Leitura recomendada (II)

Leitura recomendada

In China, there is no right to know. What citizens may learn is determined by the censors. President Hu Jintao's upcoming visit provides a welcome opportunity for a free media--that of the United States--to make more of an issue of the Chinese leaders' remarkable efforts to control the thinking of their population.

A igualdade é assexuada

A avaliação que exige igualdade de tratamento entre homens e mulheres chumbou a medida que visa reduzir o número de trabalhadores na Função Pública, avançou o [secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros]. A resolução do Conselho de Ministros, que regula a admissão de novos efectivos respeitando o princípio de uma nova admissão por cada duas saídas, teve de ser «repensada».

O Governo não especificou ao PortugalDiário quantas medidas governamentais foram alteradas por serem sexistas, mas avançou com mais três exemplos de medidas «repensadas»: a lei que criou o Conselho Nacional da Formação Profissional, a legislação que alterou a forma de distribuição dos resultados líquidos dos jogos sociais explorados pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e a proposta de lei que estabelece o regime jurídico do associativismo jovem.

[via PD]
Se o primeiro ministro fôr consequente na sua procura de establecer no país o igualitarismo assexuado, indistinto do indivíduo que cada um é, vai ter muito que fazer. Mas nem sempre o fará promovendo activamente o favorecimento do sexo feminino. Devemos esperar a introdução de limites de admissão às universidades (não só nas públicas mas também nas privadas), restringindo de forma drástica o número de mulheres que as frequentam (hoje, em maioria clara face aos homens) e evitando o excesso de quadros superiores femininos nos anos que se avizinham. Devemos também esperar o despedimento de milhares de professoras e a sua substituição por homens (nem que seja à força). Não será díficil encontrar mais casos em que a intervenção do nosso visionário PM seja necessária e urgente. Para tal conta com o apoio do seu governo formado por 46 homens e 5 (cinco) mulheres.

A força

A propósito

Call to arms

17.4.06

Leitura de férias

Pensamento nocturno

Legítima Defesa

Sacrificados em nome da paz

Amanhã

Ordem, Liberdade e Estado
Uma reflexão crítica sobre a filosofia política em Hayek e Buchanan


a ter lugar na Sala D. Henrique o Navegador, do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa (Palma de Cima), no próximo dia 18 de Abril de 2006, às 18.00 horas, com apresentação de Rui Ramos. A sessão será presidida por João Carlos Espada.

Progressismo Real no Pólo Norte

Leitura recomendada

One of the most sobering talks I have ever heard from a politician was by Maart Laar (former Estonian prime minister) and his message was simple — the future of Europe will be determined by whether Europe followed the lead of New Europe as reprsented in the dynamic and free market policies of countries like Estonia, or the old Europe as represented by the protectionist and statist policies of countries like France. France seems to be winning the day.
No mesmo blogue leiam "Why Can’t Social Change Happen in Western Europe?" de Frederic Sautet.

Dia D

16.4.06

Seminário Sobre Democracia Liberal

Destaque da semana

Novidades blogosfericas (II)