20.4.06

Pontos de Fuga



Ao que parece, um porta-voz do Jihad Islâmico afirmou que o atentado cometido foi uma "resposta aos massacres israelitas e ao cerco imposto ao povo palestiniano". O Movimento de Resistência Islâmica (Hamas), que recentemente se transvestiu em governo palestiniano para gáudio de muitos quantos escrevem sobre o Médio Oriente, veio culpar Israel pela "agressão". "A ocupação israelita é a responsável por esta situação, que é uma consequência de seus crimes", disse o porta-voz Sami Abu Zhuri. ###

O governo eleito, ao que se supõe democraticamente, preferiu não condenar, nem sequer disfarçadamente, o ataque ocorrido. E nem precisa de o fazer, que ninguém iria acreditar, pensarão alguns. Mas a verdade é que uma rápida olhadela pelos jornais e televisões deste Mundo e logo nos apercebemos da realidade. O Hamas não é visto como uma organização terrorista, mas antes como guerrilheiros da paz ou qualquer coisa poética que disfarce os crimes e acomode a consciência de quem escreve. Lembro-me de uma reportagem na Revista do Expresso, sobre o Hamas, em que nas 4 ou 5 páginas carregadas de texto, a palavra terrorismo apareceu zero vezes.

Raramente se escreve, por exemplo, que a maioria dos refugiados palestinianos foram obrigados a abandonar as suas terras porque os exércitos árabes invadiram Israel e a Palestina em 1948. Raramente se explica por que razões os países árabes se recusam a integrar os refugiados. Raramente se assume que é nos campos de refugiados que se recrutam, treinam e acolhem terroristas. Raramente se relata a propaganda anti-semita que obsessivamente é propagada por todo o Médio Oriente, com o dinheiro que supostamente serviria para construir a paz.


Raramente se escreve sobre o que sucede aos criminosos que engendram os ataques terroristas e que continuam na sua mais plena liberdade. Raramente se vai a fundo na vida em Israel, não vá ter que se contar que os árabes que lá vivem gozam de direitos, privilégios e oportunidades que em mais nenhum outro estado da região podem almejar. Raramente se tantou seguir o trilho aos milhões que a Autoridade Palestiniana recebeu, porque a verdade é que não parece que estes tenham chegado às ruas da Cisjordânia e de Gaza. Raramente se analisavam os discursos entre o que a Autoridade Palestiniana dizia em árabe e as declarações pacifistas para o Mundo ver.


Não posso nem tenho sequer pretensões de afirmar que este conflito tem apenas um vítima e um agressor. O que posso e devo fazer é tentar perceber e demonstrar isso mesmo. Mesmo que o jornalismo de causas, como descrevia o Pacheco Pereira, prefira simplificar e mastigar a propaganda que lhe vendem nas páginas do Le Monde Diplomatique.