Os sinos dobram por nós
A armadilha
Há dias a Suécia votou à direita e afastou o partido social-democrata do poder. A satisfação foi enorme mas, qualquer leitura atenta do programa da coligação presidida por Fredrik Reinfeldt facilmente nos leva a compreender que as alterações não serão muitas. É certo que houve muitos cuidados da parte de Reinfeldt para evitar o desastre eleitoral de 2002, mas subjacente a essa necessidade está uma Suécia demasiadamente estatizada.
Infelizmente, o fenómeno não é apenas sueco. No Reino Unido, o actual líder dos conservadores, David Cameron, quer tornar o seu partido o mais ao centro possível, para que não assuste em demasia o eleitorado. Em França, Nicolas Sarkozy, esse terrível homem da direita, por cada vez que defende o mercado, acaba sempre por piscar o olho ao poder do Estado. O problema é, pois, inerentemente europeu.
Falo de problema por duas razões muito simples. Em primeiro lugar, o excesso de Estado não só consome grande parte dos nossos recursos, tornando a maioria do tempo dispendido na nossa vida profissional um enorme desperdício, como ainda nos pode meter numa grande alhada. Hoje, quando quase ninguém sabe o que é poupar, quase todos descontam para um mesmo fundo, na expectativa de uma reforma que (com toda a certeza) não chegará para o mais novos. Como os políticos não estão para fazer frente à situação, cabe-nos desejar que haja apenas lágrimas e não muito sangue. Mas a dificuldade é ainda outra.
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A história do continente europeu foi de (quase sempre) contínuo progresso. Até na Alta Idade Média, mais conhecida pela Idade das Trevas, existia uma tolerância que hoje parece não compreendermos mais. As pessoas que habitavam a Europa sempre caminharam num sentido ascendente que a história veio comprovar. Quem vive hoje na Europa sente que falta qualquer coisa, mas como as pessoas estão satisfeitas com o que têm, não estão dispostas a fazer sacrifícios para suprir essa necessidade. Quando a maioria parece não querer andar mais em frente, talvez tenhamos chegado ao fim do caminho.
Os sintomas estão à vista no fracasso das políticas educativas. Quem sai das faculdades não sabe o mais importante: raciocinar. Acredita piamente em teorias conspirativas e deixa-se levar nos argumentos mais idiotas. A capacidade crítica é substituída pelo escárnio, como sucedeu com a reacção na blogosfera ao anúncio de entrada em cena do Prof. Pedro Arroja, no Blasfémias. No fundo, existe uma enorme debilidade intelectual em toda a Europa e, porque não (?), no Ocidente.
Assim é difícil. No que me diz respeito, nunca foi pessimista, pois até vi acontecerem autênticos milagres. Mas, quando olho ao meu redor, não consigo deixar de pensar se não teremos todos caído numa grande armadilha: Estupidificaram-nos tanto, que já não se vislumbra saída possível.
por André Abrantes Amaral @ 10/04/2006 11:06:00 da manhã
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