A trágica desconfiança

Carlos Novais comentou aqui este meu ‘post’. É importante esclarecer melhor o meu ponto de vista. Vivemos hoje, a nível internacional, num mundo unipolar. Uma só potência, sem ser hegemónica, tem interesses em todo o globo e em todo o lado a sua força está presente. Ora, este modelo, ao contrário do bipolar, é mais perigoso, porque mais incerto. É como numa corrida. Se dois conduzem lado a lado, um puxa pelo outro. Se, pelo contrário, um deles vai destacado à frente, cansa-se e reduz a velocidade. Descontrai-se, comete erros e pode perder a liderança. É o chamado perigo da distracção.

No período que vai de 1989 até 2001, a comunidade internacional não percebeu isto e acreditou ser possível viver uma paz completa. Uma cooperação sem limites. Os EUA e a Europa estavam distraídos. Esta distracção desapareceu no dia 11 de Setembro de 2001. Por isso mencionei Bin Landen, naquilo que chamei de despertar do Ocidente. O terrorismo é uma consequência normal do mundo unipolar. Quando os fracos não conseguem vencer os fortes, num combate de igual para igual, utilizam outras formas de luta.

Desaparecido o alheamento, surge a confusão. Atordoados com o maior ataque de sempre no seu território, os EUA parecem apenas se importar em combater terroristas, esquecendo quem lhes pode ameaçar o poder, ou seja, a China. Bem sei que tudo isto vai ao desencontro da cooperação voluntária a que o Carlos alude. Falo por mim quando digo que gostaria de cooperar com a China. No entanto, uma coisa é ir a uma loja de chineses comprar produtos mais baratos outra, bem diferente, é assistir a uma China cada vez mais poderosa e forte que, pela própria natureza das coisas, vai suspeitar de todas as minhas melhores intenções em lhes comprar produtos mais baratos.

Esta é, no meu entender, a tragédia humana: A eterna desconfiança que fere de morte a melhor das intenções. E quanto a ela, mais vale prevenir que remediar. O que, naturalmente, acentua o lado trágico da coisa.