7.11.05

O dom da vacuidade criminosa

"Porque nós não queremos ver as imagens tão terríveis de Paris e de algumas cidades da França, temos que defender aquilo que é a capacidade de integração, de conviver com o outro, de termos as minorias que se possam exprimir da forma que queiram. Isso faz parte do nosso país, da nossa cultura"

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Provávelmente é uma repetição de alguma coisa que disse antes, mas pronto, a nulidade repetitiva não paga nenhum imposto por enquanto. O que é grave neste tipo de discurso que não é exclusivo do Presidente, muito pelo contrário, é a contradição e a arrumação de pessoas dentro de categorias mais ou menos estanques. “…minorias que se possam exprimir da forma que queiram.” Ou seja o que existe não são pessoas individualmente consideradas, são grupos, culturas, religiões ou etnias. Ao colocar o ênfase no grupo, na etnia ou seja lá a minoria que o Presidente estivesse a considerar, empurra os elementos desse grupo para a diferença e acentua nos outros a ideia que estes são mesmo diferentes e não fazem parte da mesma comunidade. A conclusão óbvia é que ao invés da diversidade com que os arautos desta posição enchem a boca, acentuam-se as diferenças e antagonismos. Em lugar da miscigenação que naturalmente existe entre diferentes culturas que convivem, ganham-se muros. Daqui à hostilidade e ao conflito é um pequeno passo.
Não são as minorias que têm que poder exprimir como quiserem, são as pessoas. Sejam brancas, pretas, cor-de-rosa, muçulumanas, animistas, hindus ou católicas. Tanta retórica àcerca da Europa das pessoas, dos cidadãos, da solidariedade e não saem desta colectivização do indivíduo, não conseguem pensar no Zé, o Ariel, o Mohamed, o Edson, o Kwame, etc. Não, raciocinam o muçulumano, o cristão, o negro, o cigano, o branco. Uma quantidade de não-gente cuja única identidade é a do grupo! Como se tivessem uma tatuagem na testa a dizer: "eu sou negro, cigano, muçulumano, hindu, judeu, etc, etc."
Eu sei que gritar slogans pelos direitos das minorias e escrever artigos inflamados contra a discriminação racial, dá boa consciência e permite-lhes o racismo e a xenofobia perante o indivíduo. Como escreveu e bem a Joana, nem notamos que tratamos mal o empregado negro da oficina, enquanto nos indignamos com as condições em que vivem os imigrantes na Cova da Moura e telefonamos para o Fórum TSF a chamar fascistas aos polícias. A intelectualidade da boa consciência dorme descansada, porque grita pelas etnias discriminadas, mesmo que a Lei as proteja. E num êxtase masoquista fustiga-se de prazer pela expiação da culpa do homem branco, esse criminoso. Enfim, a receita para o desastre.


(ver no Blasfémias, o mesmo assunto.