A Paz Fria
(…) in the long interval of peace the sense of the tragic was lost; it was forgotten that states could die, that upheavals could be irretrievable, that fear could become the means of social cohesion.
KAGAN, Donald, On the Origins of War and the Preservation of Peace, London, Pimlico 1997, p. 567.
A visão idealista das relações internacionais (tão em voga na opinião pública portuguesa e alimentada pelos media e por políticos demagogos) que acredita o fim da guerra ser possível, julgou ter encontrado a sua oportunidade no pós-Guerra Fria. O ideal comunista e anti-liberal rapidamente foi substituído pelo pacifismo e pela ambição da guerra não ser mais necessária. O truque era genial, na medida em que a única nação com poder militar (e imprescindível desarmar) eram os EUA, esses arautos do mundo liberal e capitalista.
A paz eterna e sem esforço é uma ambição de sempre e tentadora. Facilmente ela se tornou um dos objectivos dos nossos tempos. Os anos 90 foram a crença em algo impossível: A paz, e não a guerra, fazem parte da natureza humana. O homem faz a guerra por razões estritamente racionais e, desta forma, bastará educá-lo nas vantagens do bem estar e ele sempre evitará o conflito em prol da paz.
O dia 11 de Setembro de 2001, abriu os olhos do Ocidente para a dura realidade. As batalhas campais dos últimos dias em Paris vieram-no acentuar ainda mais. O homem é um ser guerreiro e conflituoso. Nada pára a sua ambição desmedida. É por esta razão que os dias de hoje são mais perigosos que os da cortina de ferro. A Guerra Fria, porque era uma guerra, trouxe paz e segurança. Ironia das ironias, o seu fim conduziu-nos aos conflitos de hoje. Os anos 90 foram uma época arriscada porque, estando a paz ao seu alcance, ninguém sabia ao que ia. É caso para dizer que o homem tem medo da paz, pois esta traz consigo o desconhecido.
Acredite-se, ou não, é esta nova percepção do Ocidente aos favores da guerra que irrita os deserdados da URSS*, aqueles que, com a derrota das economias centralizadas, perderam mais outra forma de combater as democracias liberais. É ouvir os discursos pacifistas do BE e do PCP. Apostaram tudo na paz utópica. De que tudo se resolve com diálogo, negociação e boa vontade. Estiveram perto. Imbuídos do sonho em ter o céu na terra, as democracias, sem que disso se dessem conta, iam caindo na esparrela. Até que um homem, de nome Bin Laden, a viver algures numa gruta no longínquo e de má memória Afeganistão, lhes estragou os planos e despertou o Ocidente.
* Chamo deserdados da URSS não apenas aos que foram comunistas, mas a todos os que viam no regime soviético um contraponto benéfico ao poder americano.
por André Abrantes Amaral @ 11/04/2005 12:28:00 da tarde
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