Como Beneficiar da Religião?
Leio no ‘The Public Interest’, um artigo de Gertrude Himmelfarb, do qual ressalto este parágrafo (ver o link na parte de baixo da página do site):
"Tocqueville, visiting America half a century later, found that a democracy, even more than a republic, is threatened by an egalitarianism that undermines liberty and an individualism that saps "the spring of public virtues." America's saving grace was the proliferation of the "voluntary associations" that mitigate the worst effects of democracy and maintain a sense of public virtue. And among the most important of these associations were the churches. "The religious atmosphere of the country," Tocqueville wrote, "was the first thing that struck me on arrival in the United States." Unlike France, where the Enlightenment had seen to it that religion and freedom were "almost always marching in opposite directions," in America they were "intimately linked together in joint reign over the same land." It was religion in the service of virtue that made freedom possible. And American religion was uniquely able to do this because it was not an established religion. Americans cherished the idea of religious freedom, the separation of church and state, as much as they cherished their particular church or sect.”
Podemos não concordar com Gertrude Himmelfarb. Para ser mais específico, podemos concordar com ela, mas ter receio de alguns resultados daquilo em que acredita. A religião, qualquer delas e não apenas a cristã, coloca problemas de se saber quais as suas fronteiras com a sociedade civil e a vida em comunidade. Os moralismos em excesso são um perigo à liberdade. No entanto, e numa atitude um pouco oportunista que julgo ficar mais bem compreendida adiante, as religiões resolvem várias dificuldades. Uma das maravilhas da sociedade liberal é o ser dada às pessoas a possibilidade de estas decidirem como realizarem os seus projectos individuais de vida. O que coloca problemas. O maior de todos é o passarmos a depender, cada vez mais, uns dos outros. Por isso falei, no meu primeiro ‘post’, da necessidade da confiança que parte da inevitabilidade de cada um se esforçar por ser cada vez melhor. São equilíbrios deste género que têm de ser encontrados. Todos os dias. Por esta razão, uma sociedade liberal, mais que uma sociedade de pendor socialista que confie no Estado muitas das obrigações que deveriam caber às pessoas, está sempre na corda bamba. No fio da Navalha. São os custos da liberdade. Mas, são custos que fazem a vida valer a pena.
Continua Gertrude Himmelfarb, ajudando-me a explicar melhor o que eu (que por não acreditar no catolicismo não praticante, não me posso considerar católico) quis dizer com a atitude oportunista que podemos ter para com a religião:
“Tocqueville anticipated the objection commonly heard today that this view of religion is demeaning, even irreligious, because it is concerned more with the utility of religion than with its spirituality. "I do not know," he admitted, "if all Americans have faith in their religion–for who can read the secrets of the heart?–but I am sure that they think it necessary for the maintenance of republican institutions." Every religion, he noted, has two dimensions: one that elevates the soul above the material and sensory world, and the other that imposes upon each man an obligation to mankind. These are complementary functions, and both are essential for the self-government that is at the heart of democracy.”
Todo este tema é demasiado complicado, requerendo uma delicadeza e cuidados extremos na forma como o encaramos. Espero ter-me feito entender de forma minimamente clara. É um assunto que não pode ser posto de parte e deveria ser discutido. Um debate sério sobre esta matéria seria importante. As opiniões, todas as opiniões, são bem vindas.
por André Abrantes Amaral @ 3/02/2005 12:11:00 da tarde 4 comentários
4 Comentários:
é um tema complicado ....realmente o que se passa na america ,em relação ao serviço de voluntariado que é um serviço civico muitas vezes fomentado por organizações religiosas, é que através dessas organizações a sociedde civil exerce um papel importante o que na europa não existe.Por aqui está tudo ou na mão do estado ou na igreja católica, e ambos actuam como elementos pouco agregantes da sociedade.é,é complicado este tema....annie hall
Foi perfeitamente claro e é uma questão importante. Para estes «novos cristãos» do género da Gertrude Himmelfarb, a religião não é o domínio do espiritual, é o domínio da moral pública. Cumpre uma função de polícia preventiva dos costumes e é por isso que deve ser acarinhada e fomentada.
a Gertrude Himmelfarb é Judia (não sei se praticante).
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