O fim do momento neoconservador?
Partilho a satisfação do RAF ao ler as críticas acertadas do ENP e do HR ao movimento neo-conservador, mas não partilho do optimismo do HR sobre o fim do momento neocon nos EUA.
À direita, porque o conservadorismo, apesar de uma forte implantação nas bases republicanas (e em algumas bases democratas também...), atravessa um período de marasmo intelectual, que os neocons - muito minoritários mas extraordinariamente talentosos e bem organizados - souberam aproveitar na perfeição, tornado-se os "ideológos de serviço" do GOP e quase monopolizando o debate interno. Dois bons exemplos disso são a fraqueza das posições realistas em matéria de política externa à direita e o silenciamento quase total dos small government conservatives perante a expansão da despesa pública motivada pelas políticas social-democratas de George W. Bush em vários domínios.
A excepção em termos de vitalidade intelectual à direita nos EUA são os libertarians mas estes, como quase sempre, encontram dificuldades para expandir a sua influência para além de círculos relativamente restritos de elites (em grande parte por culpa própria, mas isso seria outra discussão).
À esquerda, porque é bem possível que, no caso de os democratas tomarem o poder, se assista a uma migração de muitos neocons para esse campo (não seria a primeira vez...) mantendo - ou porventura até aumentando - a sua influência no âmbito da política externa. Qualquer candidato presidencial democrata credível nos EUA precisará de se demarcar claramente da extrema-esquerda do partido - particularmente em matéria de política externa - e os neoconservadores poderão oferecer uma plataforma intelectual atractiva com uma agenda de intervencionismo internacional com vista à promoção da democracia.
É importante não subestimar a capacidade de regeneração do movimento neoconservador nem o seu contributo real nas últimas décadas (até porque a sua ascensão veio preencher um vazio programático real na direita norte-americana). O ideal nos EUA seria um reequilíbrio interno à direita com a recuperação de muitas das ideias-chave do conservadorismo (norte-americano) tradicional e uma maior incorporação de princípios liberais clássicos. Urge recuperar autores conservadores como Robert Nisbet, Richard M. Weaver e, talvez acima de tudo, Frank S. Meyer. É possível que a regeneração da direita americana não se possa fazer sem uma passagem pela oposição, mas ainda que esse seja o custo, ela é indispensável.
por André Azevedo Alves @ 8/16/2006 03:49:00 da tarde
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