4.5.06

Portugueses imóveis - II

Esta quinta-feira chegam ao ponto mais central do país [Vila de Rei, distrito de Castelo Branco], as primeiras famílias brasileiras que vão povoar o concelho. Quatro casais com filhos vêm para trabalhar na «restauração», área em que há falta de mão-de-obra, disse ao PortugalDiário a presidente da Câmara.(...)Ainda assim, há algumas vozes contra, mas Irene Barata [presidente da Câmara] é peremptória: «Em Vila de Rei não há desemprego para quem quiser trabalhar».
A autarca quer trazer mais famílias brasileiras para o concelho, mas não avança quando e quantas pessoas serão. Mas a ideia da autarquia já começou a ser adoptada por privados que estabelecem como objectivo trazer cerca de 250 trabalhadores brasileiros até 2008.

Pode-se discordar do envolvimento da autarquia no processo ou dos benefícios que foram dados aos imigrantes, mas penso que a principal atenção e análise se deve colocar no efeito acomodador que as políticas sociais têm sobre o tal imobilismo laboral dos portugueses.###
Surgindo o argumento que os imigrantes ocupar-se-ão de tarefas sem grande necessidade de qualificação e que os portugueses preferem não desempenhar, veja-se o perfil dos candidatos ao RSI, também eles sem grandes qualificações para tarefas mais complexas:

Os candidatos RSI são maioritariamente mulheres, com idades entre os 18 e os 30 anos e com habilitações não superiores ao 1º ciclo do ensino básico, um perfil semelhante ao dos utentes do RMG.
Os beneficiários do RMG são na sua maioria do sexo feminino, têm entre os 31 e os 45 anos e 55 por cento apenas possuem habilitações não superiores ao 1º ciclo do ensino básico.

Esta causa de rigidez da oferta no mercado laboral, introduzida pelo conforto proporcionado pela segurança de certas prestações sociais, pode ter resultados curiosos. Ainda recentemente, numa reportagem televisiva sobre o possível encerramento da prisão feminina de Odemira, se dava conta de um efeito inesperado. É que face à falta de mão de obra disponível para trabalhar nas estufas e plantações de produtos hortícolas, o administrador de uma empresa agrícola contratou reclusas em regime aberto (elas pareciam apreciar a oportunidade e o salário). Com o encerramento da prisão, a empresa terá de voltar a procurar quem queira trabalhar nas estufas e plantações - provavelmente imigrantes.