4.5.06

Maternalismo hard

A grande vantagem de ser de esquerda é que a certeza sobre a bondade moral das suas posições está ao alcance de qualquer imbecil: basta e sobra ser anti-americano sempre e seja em que circunstâncias for.
Jean François Revel

A discussão sobre os problemas do confronto entre o design inteligente e o evolucionismo no Kansas saiu das notícias mas tem uma ligação com isto, nem que seja nos nomes. Do design social puro e duro dos socialismos, ao paternalismo soft estatal da Economist (engenharia social), passando pelos estágios intermédios tudo não passa de variações do mesmo tema. Os designers inteligentes vão do deus ex machina socialista ao engenheiro esperto da social democracia. Um pouco desacreditado que está o primeiro (só um pouco, a acreditar na existência física e intelectual do deputado Bernardino Soares), temos o pobre engenheiro do “Third Way” ou da social-democracia modelo nórdico. A espontaneidade da evolução das relações sociais têm que ser corrigidas nem que seja à força.###
O principal instrumento do engenheiro é o Orçamento do Estado. O OE, não é o planeamento de receitas e despesas do estado, é uma ferramenta usada para discriminar pessoas, empresas, instituições e regiões, uns em favor de outros. Tenta-se favorecer a produção disto ou daquilo, punir este ou aquele comportamento, reduzir as desigualdades, fomentar o crescimento económico e as exportações, diminuir a poluição, etc, etc.
Como é que o engenheiro faz isto? Taxa os “ricos”, os combustíveis, consumo, trabalho, etc. e distribui pelos “pobres” e pelos realmente pobres, faz estradas, hospitais, escolas, etc. Ou seja, o engenheiro paternalista soft, usa o orçamento como pau e cenoura ao mesmo tempo. Tem um problema: subsidiar a produção de tomate ou de melão? O que é um pobre e onde é que ele anda? Dar à indústria de papel, de mobiliário ou de trens de cozinha? E quem é que paga tudo isto? Quem suporta as opções da engenharia?
Na prática, o que acontece é a formação de corporações e grupos de interesse, que tentam levar o engenheiro a pagar uns e não a outros, a baixar a contribuição de uns e a aumentar a de outros, a proteger uns em detrimento de outros. A tendência é a gritaria e por mecanismo de auto-defesa, por puro maquiavelismo (perdão a Maquiavel) ou interesse próprio, o engenheiro emite regras e mais regras sobre outras regras, contrata inspectores que inspecionam inspectores, e fomenta o clientelismo, a corrupção, o desperdício e a burocracia. Para os arautos do sistema, o erro não está no conceito em si mesmo, está isso sim, nas elites que dele fazem parte, porque não são santos. Os dirigentes políticos, empresários, gestores e outros.
Qual é a solução? Não há. É fazer barulho o mais possível, e levar a vidinha o melhor que se puder. Pode ser que caia o 760i do céu, mais o pagamento do seguro e das revisões.