1.3.06

É possível ser-se socialista e liberal?

Um destes dias, quando assistia a um interessante debate, um elemento do público lançou a seguinte questão: “É possível ser-se socialista e liberal?” E acrescentou: “Se um socialista anunciar que vai limitar a despesa pública a 20% do PIB e que tenciona liberalizar os mercados, não correrá o risco de lhe chamarem liberal?”. Um senhor de provecta idade, mais experiente e mais douto retorquiu: “Não”. Nunca. “A pedra de toque para reconhecer ou distinguir um socialista de um liberal não está na percentagem do PIB nem no grau de liberalização que possa propor para os mercados. É a percepção da realidade que os distingue. O liberal pensa que a cooperação social em prol da comunidade é feita individualmente, enquanto o socialista é arrogante – como diria Hayek – ao ponto de achar que o governo, ou melhor, que um governo socialista, pode construir uma ordem social mais perfeita”. É o que acontece em Espanha. O actual governo, por sinal socialista, tem posto em prática uma assombrosa engenharia política, particularmente abrangente: da solução para o problema do terrorismo a uma nova distribuição do poder territorial, passando pela reforma do sistema educativo, pela introdução de um modelo social progressista e por novas linhas de orientação para a gestão empresarial.