O Rapto da Europa
A semana passada, o Procurador-Geral do Tribunal Europeu de Justiça (TEJ) considerou fundamentadas as acusações de negligência e favoritismo que pendem sobre a ex-comissária Edith Cresson.
Uma antiga protegida de Francois Mitterrand, Cresson ascendeu à Comissão Europeia durante a presidência de Jacques Santer (1995-99). Tinha, anteriormente, desempenhados vários cargos ministeriais em França, incluindo o de Primeiro-Ministro em 1990-91. Apesar de ter exigido para si um lugar de relevo na Comissão (incluindo uma vice-presidência), as suas pretensões foram recusadas por Santer que lhe entregou o pelouro da Formação, Educação e Investigação.
O seu mandato de Comissária ficou marcado por diversos escândalos. Entre estes destaca-se a nomeação do seu dentista pessoal como conselheiro científico responsável pela coordenação dos programas de investigação do HIV/SIDA. Tendo recebido 150.000 euros em dois anos, Rene Berthelot produziu apenas 24 páginas de notas completamente irrelevantes. Outro diz respeito ao programa Leonardo Da Vinci. Alegando falta de pessoal, Cresson contratou a Agenor (uma empresa privada) para o administrar. Apesar de várias auditorias terem revelado práticas fraudulentas na gestão dos programas e atribuição dos contractos, a ex-comissária optou por abafar o escândalo.
Em 1998 Paul van Buitenen, auditor-adjunto na Comissão Europeia, chamou a atenção de membros do Parlamento Europeu para o sucedido pelo que sofreu sanções disciplinares e pecuniárias. Cresson procurou defender-se dizendo-se vítima de “perseguição política”. Mesmo quando se tornou insustentável a sua permanência, recusou demitir-se alegando que a prática de nepotismo era corrente na Comissão Europeia. Este impasse levou à sua demissão em bloco. Edith Cresson nunca demonstrou estar arrependida pelos seus feitos. Muito pelo contrário.
Se for considerada culpada pelo TEJ (o parecer do Procurador não é vinculativo), Cresson arrisca-se a perder metade da sua pensão anual no valor de 41.000 euros. Uma sanção excessivamente leve, na minha opinão.
por Miguel Noronha @ 2/28/2006 12:21:00 da tarde
<< Blogue