A Direita e a Cultura (comentário final)
O debate "A Direita e a Cultura" resultou, quanto a mim, no confronto de dois estatismos mais ou menos mitigados. Se à esquerda se defendeu que é o necessário o apoio à criação artistica, à direita considera-se inevitável o papel do Estado na manutenção do património cultural.
António Lobo Xavier tentou ainda atribuir à direita o papel do "acesso à cultura" (que seria a função de "preservação" entendida num sentido lato). Parece-me que, ainda que alguns partilhem (mais que pratiquem) este desiderato, isto é em grande parte "wishful thinking".
Como foi referido por Rui Ramos historicamente nem sempre foi o Estado o responsável pela contrução e manutenção do património arquitectónico e, como ninguém se lembrou de referir, não é nada inevitável que ao Estado seja entregue o papel de educar as novas gerações. Por outro lado, tanto Mega Ferreira como Lobo Xavier revelaram a extrema dificuldade que existe em discernir o que, de entre a produção artistica de cada geração, "fica" para as gerações vindouras.
Ninguém(*) se lembrou de defender o que, na minha óptica, será a verdadeira posição liberal (mesmo que a apelidem de "bactriologicamente pura") neste assunto. A saber, a inadmissibilidade da sujeição e subsidiação coerciva a projectos culturais alheios. Não pretendo com isto que a cultura dita "popular" seja superior à "erudita". Apenas que as opções individuais não podem (ou devem) ser coercivamente constrangidas por mentes supostamente iluminadas. O direito ao erro e ao mau gosto assiste-nos. O de sujeitar outros às nossas escolhas não.
(*) Neste ponto admito a minha culpa pois optei por não intervir no debate.
por Miguel Noronha @ 9/24/2005 11:45:00 da manhã
<< Blogue