Noites à direita, dúvidas culturais
Cheguei já tarde ao debate das Noites à Direita, tendo gostado bem mais da sessão de ontem que da primeira ocorrida no passado mês de Julho. Talvez pelo espaço do S. Luiz (uma sala maior que o Nicola), talvez por o tema ter sido mais específico.
Já no fim, e após pequena troca de impressões, surgiram-me duas questões que julgo importantes. A primeira consiste em saber até que ponto é legítimo esperar do Estado subsídios à cultura, quando há gente com fome e a viver na rua. Sei que, à primeira vista, a pergunta pode parecer demagógica. Não o é, no entanto, por se tratar, não de uma análise prática, mas que pretende ir mais fundo. À legitimidade de querer apoio estatal para um bem (o cultural) não indispensável à vida ou, se preferirem, à sobrevivência.
O segundo ponto nasce da história contada por António Mega Ferreira, do seu amigo escritor (e de esquerda) que disse preferir um mau livro português a um bom livro estrangeiro. Não se terá transformado a esquerda em culturalmente nacionalista, enquanto a direita é agora mais universalista? Não terá havido aqui uma troca de lugares? Não está a direita (nos dias de hoje) a entender o mundo num todo, enquanto a esquerda (tal qual a direita já o fez no passado) se reduz aos valores pátrios?
Não sei responder a nenhuma destas questões que, lembro, me ocorreram já findo o debate. Pensando bem, nem sequer procuro uma resposta imediata e conclusiva pela simples razão de ela não existir.
por André Abrantes Amaral @ 9/23/2005 01:39:00 da tarde
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