Os sinos dobram por nós
Apenas a direita nos pode libertar
Numa pequena nota ao meu artigo publicado na Revista Dia D, escrevi que a nova direita, a surgir em Portugal, não pode oferecer protecção aos portugueses. Tão só abrir espaço para que a confiança surja. O Filipe Moura, num seu comentário, afirmou não perceber “o que é que isso tem a ver com a ‘direita’". Acrescentando que o programa proposto, o de “libertar Portugal de atavismos, não tem nada que ser de direita”.
Vou explicar, de seguida, porque é que tem.
Em Portugal, a geração dos 30/40 anos, que está no máximo das suas capacidades laborais e empreendedoras, cresceu rodeada de uma rede de segurança e não consegue coragem para arriscar viver. Esta realidade é grave porque, quando aqueles que melhores condições têm para inovar, preferem o amparo, o país atrofia. Há muitas razões que explicam como chegámos ao que chegámos, mas a principal está no Estado Social. Este, ao tomar conta de tudo e de todos, levou as pessoas a transferirem para ele as suas responsabilidades. Elas não são mais que uns contribuintes que pagam impostos, exigem do Estado, mas nunca de si próprios. O Estado anestesiou a sociedade.
O fenómeno não é novo. Já o Estado Novo tinha conseguido o feito idêntico de ninguém o questionar. Ninguém? Não. Uns pobres tipos de esquerda, comunistas e não só, quiseram mais. À sua maneira, conseguiram-no com o 25 de Abril. À sua maneira, a esquerda de então era progressista, acreditava no homem, enquanto a direita salazarista duvidava das suas capacidades. A esquerda apelava às qualidades das pessoas, à sua generosidade e força. Hoje, no poder, já não o faz.
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Actualmente, a esquerda desconfia dos cidadãos. Analisar esta desconfiança é importante porque nos leva a distinguir a existência de duas esquerdas. Uma, expressa no PSD, no Partido Socialista e num certo CDS, não acredita serem as pessoas capazes de criar riqueza. No seu entender, estas precisam de ajuda. Ajuda traduzida nas já conhecidas obras públicas. Assim, só haverá crescimento económico se o Estado reforçar a cobrança de impostos e fizer obra. A outra, dominante no Bloco de Esquerda e no Partido Comunista, vê potencialidade nas pessoas, mas tem medo delas. Esta esquerda desconfia da maldade inata do ser humano. Uma maldade a que apenas o Estado pode pôr cobro.
Embora por diferentes razões, ambas as esquerdas não acreditam no homem. Suspeitam dele. As duas vêem no Estado Social a única forma de ultrapassar essa dificuldade. Ora, se ambas encaram o Estado Social como a salvação, não cabe à esquerda resolver o problema referido no início deste artigo. Não cabe à esquerda libertar Portugal dos seus atavismos. Com as suas actuais suspeições, a esquerda é retrógrada e conservadora. Tal qual a direita em tempos o foi.
O espaço está, pois, todo deixado à direita. À direita liberal.
O liberalismo centra-se na pessoa humana. Encara-a como a única capaz de resolver os problemas que vão surgindo no dia-a-dia. O liberalismo acredita na inteligência, na capacidade empreendedora de cada um. Mais importante ainda: Não obriga quem quer que seja a ser o melhor, mas apenas o que quiser. Não indica o caminho. Tão só pretende libertar a sociedade do Estado.
A direita liberal, ao contrário do beco sem saída em que se meteu a esquerda, acredita na pessoa humana. Esta realidade faz toda a diferença. Tanto no conceito de segurança social, como no planeamento da reforma, na defesa de programas de ensino livre, na saúde e em todas as demais áreas das políticas sociais, o discurso da direita é o de devolver o poder aos cidadãos. Na conquista do voto, onde a lei do mercado também funciona, vence sempre quem tem o discurso positivo. A direita liberal defende a liberdade e a dignidade humana. Acredita que as pessoa são capazes. Aceita, por estas mesmas razões, a própria incerteza inerente à condição de ser humano . O Filipe Moura pode até ficar muito triste, mas o futuro, meu amigo, já não está na esquerda.
por André Abrantes Amaral @ 9/06/2006 10:44:00 da manhã
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