O valor do insucesso
O meu artigo publicado ontem na Revista Dia D.
O valor do insucesso
The hardest freedom to maintain is the freedom of making mistakes, Morris West, escritor.
O número de Setembro da revista Máxima, contém uma pequena reportagem sobre os ‘jovens’ de 30 anos que ainda vivem em casa dos pais. As razões apontadas são diversas, sendo a mais importante a dificuldade que é conciliar a compra de casa própria, com o início de uma vida a dois e a realização profissional. Para a maioria dos homens e mulheres que andam por volta dos 30 anos (por sinal, da minha geração) tudo isto é muito complicado. No fundo, no fundo, todos têm um enorme medo de viver.
Fala-se hoje muito da globalização, do perigo chinês, terrorismo, fanatismo religioso e do fim do petróleo que nos conduzirá à miséria. A insegurança é a palavra de ordem e são muitos os que buscam uma garantia para a vida. No entanto, todas estas razões não são razão para coisa alguma. Há 30 anos, os portugueses iam para o Ultramar estilhaçar o que restava da juventude e comprometer o seu futuro. Há 60, uma geração inteira morreu, ou sobreviveu, nas praias da Normandia. Vistas bem as coisas, os problemas que temos no presente são uma brincadeira quando comparados com os perigos do passado.
O drama de hoje é a ânsia do sucesso. O sucesso é bom, mas para o ter é preciso passar, como se costuma dizer, ‘as passas do Algarve’. Ele não chega assim como quem não quer a coisa. Exige esforço e risco. Precisamente o que a maioria da juventude de hoje, não quer. Como não quer e gosta da ideia de sucesso, contenta-se com um emprego certo, um automóvel como salário e pavoneia-se pelas praias do país. O sucesso hoje não é ter uma empresa e criar empregos. É ter um Audi A4 e Tv plasma. Algo que não é produtivo, nem cria riqueza. Antes a gasta.
Fala-se muito de liberalismo, tanto nas colunas de opinião desta revista, como na blogosfera, o que é agradável para um país demasiado estatizado. Sucede que o Estado liberal não nasce de um clique, antes necessita de uma sociedade liberal. De homens e mulheres que não receiem ter medo. O medo faz parte da vida. Tal qual o fracasso e o erro também. Friedrich Hayek terá sido dos poucos a valorizar o que chamou de ‘unmerited failure’. Aquele falhanço imerecido de quem trabalhou no duro, arriscou o que tinha, se esforçou, perdeu e terá de recomeçar de novo, com um novo vigor, numa outra empreitada. Em Portugal, no entanto, o fracasso é alvo de chacota de quem ‘assiste a tudo sentado numa poltrona’.
Se quisermos que os nossos filhos vivam melhor que nós, uma nova mentalidade tem de surgir. Que valorize o empresário, o trabalhador esforçado, o homem e a mulher que não contam apenas com o amparo do Estado, nem sejam um peso pesado para os outros. A espertice terá de ser substituída pela honestidade e a palavra a maior das honras, porque apenas os honrados merecem a liberdade. Uma certa ligeireza de espírito será necessária, tal qual o deixar de ver a vida como uma sequência de coisas previsíveis, indispensável.
Naturalmente, nada disto é obrigatório. Podemos continuar como somos, mas com a certeza que o empobrecimento gradual nos acompanhará para a vida. É uma escolha a ser feita, não por um qualquer governo, mas por cada um de nós, individualmente, sem saber o que farão os outros. A dificuldade do liberalismo está aqui: Não depende da vontade única de um governo, mas da auto-estima de cada um. Porém, é precisamente essa dificuldade que o torna atractivo. Porque apenas quando se supera o difícil se encontra o melhor. Ou se preferirem, o verdadeiro sucesso.
por André Abrantes Amaral @ 8/29/2006 10:17:00 da manhã
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