25.8.06

A pedra no sapato a que chamam "ética"

Diz, a dada fase, o LT no post "A ciência ao serviço da vida":

"(...) Confirmando-se esta notícia, estaremos perante uma revolução científica que, ultrapassando as questões éticas levantadas pela destruição dos embriões, permitirá avanços significativos ao nível da medicina regenerativa (...)".


Essa questão está ainda longe de ser pacífica no plano ético. Podemos legalizar a destruição das células estaminais, e até encontrar justificações utilitaristas para suportar essas opções. No momento parece que se conseguiu avançar para uma solução que preserva os embriões. Mas e que vamos fazer com esses embriões? Congelam-se ad eternum? Destroem-se? Permite-se a sua reutilização? Vamos ter filhos de pais mortos (como aconteceu em França)? Ou, pelo contrário, podemos proibir o seu acesso aos detentores daquele património genético? O sacrifício da vida - e os embriões são formas de vida, no seu estado inicial - para preservar outras vidas humanas, numa fase mais avançada, em nome da ciência, não nos deve colocar algumas reservas? Quais são os limites? Que fins justificam que meios? Existem vidas com um valor ético superior que avalizem certo tipo de sacrifícios? Ou defendemos que os embriões são formas de vida, mas não possuem, ainda, dignidade humana (não são "pessoa")? E, sendo assim, qual o momento em que um embrião adquire a sua humanidade, a sua personalidade?

O tema é complicado; agora, faz-me alguma confusão o modo como com tanta frequência - e tal está fortemente presente nos comentários ao post do LT - se coloca, de um lado, a ciência - apresentada como uma "candeia que ilumina duas vezes" - em contraposição com a ética - uma espécie de pedra no sapato, de raíz obscurantista, que parece só existir para prejuízo da humanidade e da civilização. Como se a ética estivesse limitada pela ciência, e não o contrário. Como se não fossem os fundamentos da ética os mesmos que nos definem, pela positiva, como seres humanos. O maniqueísmo subjacente ao enaltecimento da ciência, com o intuito de limitar e esgotar o espaço da ética, representa um retrocesso civilizacional, e não, como se quer fazer crer, um avanço.

Rodrigo Adão da Fonseca