Who framed Carlos Sousa?
Na edição de 2ª Feira, o Diário de Notícias revelava que "na sequência da investigação ao casos das reformas compulsivas, alegadamente combinadas entre o Executivo municipal e mais de seis dezenas de funcionários da autarquia" a "a Inspecção-Geral da Administração do Território (IGAT) recomend[ava] a dissolução da Câmara Municipal de Setúbal e a perda de mandato dos vereadores, incluindo do presidente, Carlos de Sousa".
Porém, no mesmo dia, António Costa assegurava que o processo ainda não estava concluido. Faltaria, pelo menos, que a "Câmara de Setúbal [fosse] ouvida, «em sede de contraditório»".
Outra notícia do DN dava conta que Carlos Sousa era mal visto dentro do seu partido devido à sua proximidade com a "corrente renovadora". Embora fontes do PCP referissem que a contestação se devia a uma "análise pouco favorável do trabalho autárquico e [à] falta de coordenação" o facto é que foi apenas devido ao prestígio de Carlos Sousa que o PCP logrou (re)conquistar a Câmara de Setúbal. Como anteriormente referi, uma análise comparativa dos resultados das eleições legislativas e autárquicas permitirá desfazer quaisquer dúvidas que ainda subsistam. Segundo consta, as faltas de coordenação resultam da incompatibilização de Carlos Sousa com os elementos mais ortodoxos do PCP.
Hoje de madrugada, numa nota de imprensa, digna daqueles países em que o partido se confunde com o Estado, a concelhia de Setúbal do PCP antecipava-se à declaração de Carlos Sousa e anunciava a sua substituição.
Hoje de manhã, na conferência de imprensa onde finalmente anunciou a sua renúncia, Carlos Sousa confessou-se "surpreendido com decisão do PCP". Ainda assim, num gesto inexplicável e invocando "princípios", revelou que iria acatar a decisão. Confessou não estar preocupado com o processo do IGAT e acusou o PS e o Governo de serem os autores da "fuga de informação".
Significativamente, o PS tinha ontem recusado provocar a queda do executivo camarário. Quando alguns já suspeitavam da existência de negócios obscuros entre o PS e o PCP, hoje o PS já coloca a hipótese de realizar "eleições intercalares" embora preferisse que a iniciativa partisse dos comunistas.
Finda a exposição dos factos fico sem saber se o processo do IGAT foi o motivo ou o pretexto da saída de Carlos Sousa. Não compreendo a resignação deste em se submeter a quem o "surpreendeu" especialmente se, como diz, não teme o desfecho do processo do IGAT. Gostaria de saber quem foi o autor da "fuga de informação" e quais os seus propósitos. Concluindo, continuo com dúvidas acerca das verdadeiras razões da saída de Carlos Sousa.
por Miguel Noronha @ 8/23/2006 07:39:00 da tarde
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