Democracy must be something more than two wolves and a sheep voting on what to have for dinner. - James Bovard
16.8.06
O fim do momento neoconservador? (4)
O André Azevedo Alves referiu ser, na politica externa, a escola realista a melhor alternativa, para a direita, à influência neoconservadora que parece esmorecer nos meandros da administração Bush. No entanto, embora concorde com o André, devo chamar a atenção que esta mudança de estratégia da política externa norte-americana não é de agora.
Já no discurso da tomada de posse de George W. Bush para um segundo mandato presidencial, este, mesmo dando ênfase à causa da liberdade, evidenciava que a política norte-americana iria sofrer, nos quatro anos seguintes, uma aproximação à escola realista.
Por sua vez, a revista ‘The National Interest’, na sua edição de Inverno de 2005, chegou a apresentar uma série de ensaios a que intitulou ‘Cismas Conservadores’, numa alusão ao ajuste que a política externa americana poderia vir a sofrer nos próximos anos. Num desses artigos, Robert Ellsworth e Dimitri K. Simes apontaram aquela que, no seu entender e num forte pendor realista, deveria ser a trajectória da política externa de George W. Bush. Diziam eles, numa crítica velada aos neo-conservadores, que, "Neoconservatives both in and outside the administration to make American foreign policy more effective is to change the tone of American statements and to engage in better public relations. This is fantasy. What is required is not just a change in salesmanship, but rather how U.S. policy is conducted”, acrescentando que “(…) President Bush will enhance his legacy and do a lot of good for U.S. foreign policy effectiveness if he makes high-minded realism his foreign policy motto”. Mencionavam de seguida que esse realismo se deverá basear em cinco importantes princípios que são, a) o combate ao terrorismo, b) o restabelecimento dos EUA como líderes do Ocidente em matéria de política externa, c) o seguir os conselhos de Theodore Roosevelt “to speak softly while carrying a big stick”, quando se dirigir aos seus aliados e adversários, d) abandonar a ideia que todas as nações e povos partilham os mesmos valores e, por último, e) não encarar a democracia como uma imposição imperial, mas procurar que os povos, por si a queiram, aceitem e por ela lutem.
Ora, no seu discurso de tomada de posse para um segundo mandato, George W. Bush, pareceu ir ao encontro destas pretensões e conselhos realistas quando, por exemplo, mencionou que “This is not primarily a task of arms” e “America will not impose our own style of government on the unwilling. Our goal instead is to help others find their own voice, attain their own freedom, and make their own way.” Numa série de passagens do seu discurso, Bush deu-nos a entender que, se pretendia manter os mesmos objectivos de liberdade, iria também ter um maior cuidado na implementação da sua política e na forma com que iria abordar, não apenas os seus adversários, mas também o seus aliados. O discurso está cheio de frases e palavras subtis, tais como “The great objective of ending tyranny is the concentrated work of generations” que nos demonstram ter este presidente concluído não conseguir mudar o mundo em tão pouco tempo. Na verdade, como o próprio o refere, “America’s influence is not unlimited (…)”.
Bush não é o primeiro presidente a falar de liberdade no seu discurso de tomada de posse. Já Kennedy o fez, numa altura em que pouco se falava das correntes neo-conservadoras, quando disse: "Let every nation know, whether is wishes us well or ill, that we shall pay any price, bear any burden, meet any hardship, support any friend, oppose any foe to assume the survival and success of liberty." Nada há de mais, pois, na ênfase dada à liberdade por George W. Bush. Pelo contrário, e baseado nas razões aludidas, creio que já em Janeiro de 2005 era previsível assistirmos, no segundo mandato presidencial, a uma correcção realista da política externa norte-americana, o que o papel de Condeleeza Rice, à frente da Secretaria de Estado, só veio confirmar.
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