16.8.06

O fim do momento neoconservador? (3)

A forma como os neo-conservadores se posicionam face à realidade à medida que esta evolui não auspicia em nada o seu fim. Estamos a falar de gente que consegue como ninguém marcar a agenda mediática. Veja-se como Francis Fukuyama se demarcou do movimento neoconservador, sem renegar aos seus princípios fundamentais, quer em 2004, no The Neoconservative Moment (The National Interest, Summer, 2004; podem ler o artigo completo aqui: cortesia findarticles.com), defendendo, sem reservas, a "ex post legitimacy"; ou acusando os seus pares de terem extremado os valores essenciais do pensamento original, abusando da expressão "excessive"; quer no seu mais recente livro, "After the Neocons: America at the Crossroads":

"Having long regarded myself as a neoconservative, I thought I shared a common world view with many other neoconservatives - including friends and acquaintances who served in the administration of George W Bush . . . I have concluded that neoconservatism . . . has evolved into something that I can no longer support."

Lendo aquilo que em 2004 e 2005 foi sendo escrito na The National Interest no debate mantido com Krauthammer, ou o que se publica aqui, ninguém diria que Fukuyama foi um dos principais artífices, no plano da justificação, da intervenção no Iraque.

Como bem assinala Martin Jacques no The Guardian, "Fukuyama is good at reading «the moment»", característica que pode ser alargada a outros pensadores da corrente neoconservadora. Importa, assim, nunca menorizar a capacidade dos que, acreditando numa realidade construída numa base dialéctica, mas fechada, são capazes de se ir adaptando às contingências não previstas do processo histórico. E não se julgue que esta é uma realidade longínqua apenas constatável nos meios intelectuais e políticos norte-americanos: Portugal está recheado destes artífices da cosmética ideológica.

(...) A influência neoconservadora não tem sido suficientemente desmascarada pelas direitas europeias, que optam pelo apoio expresso ou envergonhado a correntes que não encontram qualquer acolhimento na nossa forma de pensar: nem a visão internacionalista de Krauthammer, nem o pensamento ziguezagueante de Fukuyama (num misto de arrependimento justificado na crença da superioridade Moral norte-americana e de crítica aos que, assolados pela realidade, e com tanta luz, já não a conseguem discernir) nos servem (...)

Rodrigo Adão da Fonseca