Israel e o Hezbollah: uma reacção proporcional? (2)
O Corcunda respondeu a este meu post, clarificando a sua posição anterior mas também, ao que me parece, imputando-me posições que não defendi.
Quanto à clarificação, é positivo que se reforce a distinção entre uma efectiva ameaça à existência do Estado e meros actos criminosos isolados. As analogias que ignoram esta distinção são, consequentemente, inválidas.
Não me parece que do meu anterior texto seja lícito inferir que defendo que "a existência de uma ameaça à existência do Estado justifica acções contra populações". Limitei-me a salientar a distinção referida acima com vista a chamar a atenção para o facto de os requisitos para satisfazer o princípio da proporcionalidade variarem em função da gravidade da ameaça. Adicionalmente, creio que é relativamente claro (a começar pelas intenções declaradas dos terroristas) que os actos de terrorismo dirigidos contra Israel representam uma séria ameaça para a totalidade da sociedade pelo que o critério da proporcionalidade deve ser colocado a esse nível.
Estou, obviamente, de acordo que qualquer sacrifício consciente e evitável de inocentes é imoral (nunca escrevi nada em contrário) mas não vejo de que forma é que essa proposição pode ser usada para condenar Israel no caso em análise. Face às repetidas agressões sofridas, creio que a reacção do Estado de Israel, confrontado com inimigos que declaradamente visam a sua total aniquilação, se tem pautado, regra geral, pela utilização de meios não desproporcionais face à ameaça que se coloca. O reduzido número de baixas e o carácter selectivo dos alvos (o critério de selectividade é discutível mas é indiscutível que há selectividade, caso contrário o grau de destruição infligido ao Líbano seria incomparavelmente superior) aí estão para o demonstrar.
Não se trata pois, do lado israelita, de "chacinar civis" ou de qualquer "Guerra Total" (o mesmo já não se poderá dizer dos terroristas, que não só chacinam indiscriminadamente o maior número possível de civis como anunciam abertamente os seus intentos de destruição total do Estado de Israel). Seria aliás um acto de elementar justiça reconhecer que, apesar de Israel ter ao seu alcance os meios necessários para agir dessa forma (no que poderia ser uma efectiva retaliação em massa contra populações civis), tem sistematicamente e de forma consistente optado por não o fazer. A questão mais difícil que quanto a mim se coloca não é a de avaliar a proporcionalidade da actual resposta contida do Estado de Israel mas sim a de saber a partir de que momento - no caso de o conflito continuar a escalar - se tornará legítimo o emprego de meios de maior potencial destrutivo e com maior probabilidade de causar danos colaterais. Espero sinceramente que o conflito possa ser travado antes de chegarmos a esse ponto.
por André Azevedo Alves @ 7/18/2006 03:04:00 da tarde
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