18.7.06

Dumping: defender consumidor ou trabalhador?

A questão do preço final inferior ao custo de produção - táctica utilizada para esmagar a concorrência mais frágil - é aparentemente ouro sobre azul para o consumidor (ideia defendida, com cautela, no artigo já referido) mas pode ter como consequência o estímulo ao monopólio (menos empregos, mercado com menor capacidade de absorção dos produtos) e, numa análise dinâmica, mesmo que o poder de compra e o número de trabalhadores não se altere, a tendência é para o aumento do preço final (ao consumidor) no longo prazo. Com isto pretendo dizer que o consumidor não pode ser o centro absoluto da política económica.
Quanto ao facto do preço aumentar no longo prazo, assumindo que não existem barreiras à entrada (conforme refere o Miguel), este só poderá subir para os valores praticados antes do dumping.

Mas o processo de decisão do consumidor não envolve - na maioria dos produtos - exclusivamente o factor preço. Logo, o dumping só será eficaz em relação a produtos indiferenciados, nos quais o preço é uma importante componente decisória.

A prática de dumping, financiada por governos estrangeiros, tem como consequência o desemprego nas empresas que fabricam tais produtos indiferenciados mas, caro Ricardo, também possibilita o aumento do emprego nos sectores de actividade mais competitivos, fruto do acrescido rendimento disponível dos consumidores que adquirem os produtos subsidiados. Não são, por isso, apenas os consumidores a beneficiar com o dumping.

PS: deixar o mercado funcionar não é uma "política económica", uma vez que não exige a intervenção do Estado.