5.7.06

Calderón e Allende

De acordo com Jorge Castañeda, ex-ministro de Relações Exteriores do México (2000-2003) e professor de Política e Estudos Latino-Americanos da Universidade de Nova York, os 36% de votos que Felipe Calderón obteve dificilmente representam um mandato.

Ora, Salvador Isabelino Allende Gossens foi eleito presidente do Chile com 36,2% dos votos válidos e graças ao apoio que recebeu da Democracia Cristã no Congresso, apoio que, por sinal, estava condicionado à assinatura do Estatuto de Garantias Constitucionais, um documento que determinava que o governo da Unidade Popular comprometia-se a respeitar a Constituição e assegurar a sobrevivência do regime democrático.

No ano seguinte, em entrevista a Régis Débray, Allende confessou que assinou esse documento como uma mera necessidade tática para obter o poder.

Estou totalmente de acordo com Jorge Castañeda. 36% dos votos podem legalmente garantir um mandato, de acordo com as regras democráticas de determinados países, mas não bastam para legitimá-lo ou para torná-lo de fato representativo. Mas quem concorda com isso deve automaticamente aceitar que o governo de Salvador Allende, no Chile, foi legal mas não legítimo e não teve representatividade (aliás, o próprio Allende declarou que não era o presidente de todos os chilenos).