Os sinos dobram por nós
O império liberal
Desde há muito que a simples ideia de império causa arrepios. A segunda metade do século XX foi marcada pelo fim dos impérios europeus e o nascer de novos Estados. A independência, ao menos formal, tornou-se um fim desejado e finalmente conseguido. Sucede que depois da bonança, veio a tempestade, com a surgimento de inúmeros Estados falhados que, quando tomados por grupos terroristas, colocam em risco a tranquilidade de qualquer potência. Perante a nova realidade, vai regressando a ideia do império. Até que ponto não será desejável repensar o conceito que dele temos?
Os impérios nem sempre foram iguais. Houve os que se expandiram em territórios despovoados e os que dominaram populações inteiras. Os que foram de matriz continental, enquanto outros de carácter essencialmente marítimo. Os marcadamente centralizados e aqueles que apostaram na descentralização do poder, como forma de conservar o seu domínio. São muitas as diferenças, mas uma semelhança a quase todos é comum: Um certo desenvolvimento económico aliado à pacificação dos territórios sob o seu controlo.
Felizmente tudo está por inventar até mesmo o conceito de império liberal. Desde que, aquando da intervenção no Iraque, os EUA sentiram que os compromissos do passado não seguravam os seus aliados de sempre, um novo equilíbrio passou a ter de ser encontrado. A partir do momento em que China e Rússia começaram a bater o pé às iniciativas norte-americanas, uma nova rede de aliados começou a ter de ser elaborada.
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Niall Ferguson, no seu livro Colossus, salientando que os EUA são um verdadeiro império, chama a atenção para a necessidade de este não dever apenas aceitar o comércio livre, mas pugnar verdadeiramente por ele. Para isso, é importante o desenhar de um conjunto de alianças com vários Estados, com o objectivo comum de defesa das liberdades individuais, objectivo que se estenda e se alargue, como um verdadeiro império. Um império liberal, com colónias liberais.
A originalidade está na diversidade. O ambiente que se vive neste início de século pode ser o ideal para este novo tipo de império. Nos finais dos anos 40 do século passado, George Kennan defendeu que o equilíbrio de poder só podia ser restaurado com a diversificação dos centros de decisão. A América precisava de aliados que pensassem pela sua cabeça, em oposição ao centralismo da União Soviética. A força das alianças dos EUA com outros Estados encontrava-se na defesa de interesses comuns e na autonomia para a definição de políticas. O que as unia era a defesa do mundo livre, objectivo para o qual a força militar nem seria a preponderante. O sonho de Kennan não se concretizou devido, essencialmente, à fraqueza da Europa e do Japão. Hoje, não é assim. Os centros de poder europeu e japonês são fortes e podem ter um papel importante na adopção de certas políticas. Com aliados fortes, o império liberal pode enfrentar os seus adversários com imaginação e flexibilidade.
É entre as colónias liberais que um país como Portugal poderá agir. O nosso país tem especiais ligações com o Brasil (uma potência emergente) e África. Não me recordo quem disse que na Europa, apenas Portugal, a França e o Reino Unido percebem alguma coisa daquele continente. Como elo de ligação entre os continentes europeu, americano e africano, o papel de Portugal é indispensável e desprezá-lo um desperdício, não apenas para nós, mas para o dito império de liberdades individuais que cabe defender neste século XXI.
Nota: A imagem no início deste texto pode não ter sido a mais bem escolhida. Se Atenas foi o berço da democracia, a teia de alianças que construiu no Mar Egeu, foi tudo menos liberal. Atenas não teve aliados, mas vassalos. Ao invés, Esparta, uma cidade autoritária, ao dar autonomia aos seus aliados, conseguiu estar bem mais perto do que aqui se escreve dever ser um império liberal.
por André Abrantes Amaral @ 7/05/2006 10:59:00 da manhã
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