Toda a diferença
Voltando ao tema da manutenção dos ditos sectores chave da economia em mãos de nacionais, convém fazer um esforço no sentido de perceber o porquê da histeria existente sempre que um estrangeiro decide investir umas ‘massas’ no nosso país. Na verdade, tudo é muito estranho. Durante todo o século XX, andou Portugal a acreditar serem os ‘seus’ empresários uns tipos de vistas curtas e avessos ao risco (mito que se manterá enquanto não for desvendado o que se entende por risco). O estado, esse centro de luminárias, colmatava o problema e investia na economia. A princípio pouco, porque pouco era esperado do povo que habitava este jardim. Com a revolução dos cravos, esses conservadores que desconfiavam da iniciativa privada, são substituídos por uns tipos progressistas. Estes, ao contrário daqueles, acreditavam em grandes projectos e melhores desígnios. Mas um ponto essencial os unia: O estado e a crença na sua capacidade em ultrapassar a incapacidade (e desonestidade) inata dos empresários nacionais.
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Agora, assistimos ao contrário. Os governos anseiam por empresários portugueses, afligem-se com a sua prudência em época de dificuldades, exigem-lhes riscos e sacodem a água do capote sempre que se menciona ter a crise origem na desordem das contas públicas. Não satisfeitos intimam os empresários a não vender as suas empresas a estrangeiros. O que mudou? Terá aumentado a crença na iniciativa privada? A resposta é muito simples e naturalmente negativa. A mudança na atitude é superficial, interesseira e baseia-se na incapacidade actual do estado manter sozinho o monopólio dos negócios. O mundo mudou muito, é mais competitivo e é preciso actualizar a estratégia. Ora, para tal nada melhor que o português sempre à cata do subsídio e à espera do jeitinho. Tomemos em conta o seguinte: O que o Estado teme no investimento estrangeiro na TAP, na PT e outras que tais, não tem que ver com interesses estratégicos nacionais, mas com controlo. O estado português não controla empresas espanholas, italianas e inglesas. Respeita-as e, por isso, desconfia delas. A história dos sectores chave da economia nacional é conversa fiada para cativar apoios nesta luta. Porque não são os interesses nacionais que estão em causa, mas os proveitos do estado. Esta é toda a diferença.
por André Abrantes Amaral @ 2/23/2006 11:58:00 da manhã
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