22.2.06

Discriminação positiva?

Se criticar a Opus Gay, sou considerado um sinistro homofóbico. Se defender o Ku Klux Klan, ou atacar a comunidade negra, sou um porco racista. Se gozar com câmaras de gás, e escrever holocausto com letra pequena, sou um sacana de um anti-semita. Se ofender os ciganos, sou xenófobo. E, se defender Hitler e usar uma suástica, sou considerado um canalha nazi. Porém, se fizer um ‘cartoon’ de um Maomé bombista, o mundo levanta-se a defender a minha ”liberdade de expressão”. Infelizmente, o que esta crise confirmou é que os muçulmanos estão agora no fim da escala de valores ocidental. Não têm, como outros grupos ou raças, direito a ”discriminação positiva”.

Na crise dos ‘cartoons’, os agressores iniciais (os cartoonistas e o jornal dinamarquês) tornaram o seu país, a Dinamarca, numa vítima dos radicais islâmicos. Foi um processo estranho e complexo, mas que não convida à solidariedade. A única coisa que aprendi sobre a Dinamarca é que lá também existem idiotas. Nada de surpreendente, há-os em todos os países. Mas, não costumo solidarizar-me com eles. Este desejo de unir o Ocidente (o ”somos todos”) é perigoso. Não somos todos idiotas, nem somos todos de extrema-direita. Entre um muçulmano radical e um ocidental radical, venha o Diabo e escolha. Eu não escolho. Quem aceitar o ”nós” contra ”eles”, aceita e promove a armadilha terrorista.
Pelo que pude perceber, o autor é defensor do que designa de "discriminação positiva" e considera idiota quem, através dos seus actos, insulta determinado grupo ou raça.

Em posterior artigo, Domingos Amaral, filho do actual Ministro dos Negócios Estrangeiros (Diogo Freitas do Amaral), identifica uma fonte da liberdade de expressão mais radical:###
Agora não há bicho careta que não tenha o seu bloguezinho. Desde os mais reputados intelectuais a perfeitos desconhecidos, todos têm um bloguinho, onde depositam os seus elevados e notáveis pensamentos. Está definitivamente na moda ter um ‘blog’, ou escrever num ‘blog’, e aparentemente há uma enorme oferta de raciocínios e ideias na blogosfera. Há mesmo quem, com aquele ar de superioridade que caracteriza os pioneiros na descoberta de um novo mundo, nos olham de cima para baixo só porque nós ainda não fomos consultar este ou aquele ‘blog’. Como se o ‘blog’ se tratasse de uma praia nos confins do Brasil, hiperexclusiva, onde só os que verdadeiramente contam apanham sol!

Mas, o mais curioso nem é isso. O mais curioso é que, tal como os queixosos que utilizam a internet, também nos ‘blogs’ se tem vindo a assistir a um progressivo resvalar para os insultos e para os ataques pessoais como arma argumentativa. A blogosfera, com a sua saudável anarquia, começa também a revelar o seu lado mais nefasto. A coberto da protecção que a blogosfera dá, ultrapassam-se muitos limites, e regressa-se alegremente ao século XIX, onde a imprensa era livre, mas também insultuosa e desnecessáriamente cruel. Por outro lado, cria-se um novo efeito, talvez não intencional. É que, pressionada pelo radicalismo entusiástico da ”blogosfera”, a imprensa escrita sente-se ultrapassada, e os cronistas e ‘opinion makers’ sentem-se na necessidade de irem mais longe, de serem um bocadinho mais radicais, de dizerem mais um argumento, mais uma farpa, mais um insultozinho disfarçado de pensamento profundo. Deus quer, a blogosfera pressiona, o insulto nasce.
Primeiro, os ditos "ataques pessoais" nunca podem ser usados como "arma argumentativa" porque um insulto não é um argumento. Segundo, tal como na imprensa escrita, a leitura de blogs é voluntária. Se uma opinião não é suportada por argumentos válidos haverá sempre alguém (principalmente na blogosfera) capaz de desmontar semelhante "radicalismo".

Ora, nos textos citados, Domingos Amaral dá a entender que a blogosfera, assim como a imprensa escrita, devem efectuar um pouco de autocensura de modo a não insultar determinados grupos ou raças. Sendo assim, estará Domingos Amaral disponível para alterar, na qualidade de Director da revista Maxmen, o conteúdo editorial da publicação caso esta insulte grupos feministas mais radicais?



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