Europa e Populismo
No Charlemagne da The Economist desta semana (artigo para assinantes), escreve-se acerca das críticas que Governos como de Jacques Chirac têm feito à Comissão Europeia e ao seu Presidente, um tal de José Barroso, que aparentemente terá sido primeiro-Ministro de um pequeno estado-membro da UE. Segundo a revista, essas críticas reflectem a dificuldade que esses Governos têm em aceitar a realidade da globalização, em promover as reformas que seria necessário levar a cabo. Numa altura em que a Comissão procura conseguir alguma modernização do "modelo social europeu", e em que os eleitorados desses países estão pouco interessados em suportar os eventuais custos das mudanças que essas reformas implicariam, estamos perante uma receita para a desgraça. Economias em estagnação, o eleitorado a protestar, e os Governos a culpar a Comissão. Como a própria revista afirma, os protestos dos Governos contra a Comissão, feitos "em casa", não são nada de novo. Todos nos habituámos ao discurso do Primeiro-Ministro vindo de um Conselho da Europa, dizendo que foi obrigado a aceitar aquela medida que o eleitorado não gosta, para o país não ficar para trás no comboio da Europa. Claro que agora, o protesto é para impedir reformas, e não para as passar sem enfrentar o protesto popular, como era o caso do que acontecia no passado. Mas no entanto, o problema é o mesmo. O elevado número de assuntos cuja decisão passa pela Comissão, e não pelos Estados nacionais e os seus parlamentos. Porque ao colocar tamanhas responsabilidades na Comissão, e não nos Estados, ao se afastar destes últimos as responsabilidades, afasta-se também deles a responsabilização. Um Governo sem responsabilidade numa àrea, é um Governo que não pode ser responsabilizado. É um Governo que tem margem de liberdade para demagogicamente criticar uma outra entidade, por coisas que escapam à vontade política, seja dos Governos, seja da Comissão (o caso dos despedimentos na Hewlleth-Packard em França). Este é um elemento que é geralmente esquecido na análise da integração europeia. Por muitas vantagens que tenha trazido, contribuiu também para o clima de crescente desresponsabilização dos agentes políticos. O que por sua vez, contribui para o crescimento do clima onde reina a demagogia. Esse elemento da integração europeia, ao contrário de outros, não trouxe qualquer benefício.
por Anónimo @ 10/18/2005 11:06:00 da tarde
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