Os misteriosos cortes na despesa
Martim Avillez Figueiredo explica em mais um excelente artigo por que razão os números não traduzem as palavras:II. Os cortes na Despesa (corrente e de capital)
Aqui tudo se complica. O compromisso é grande: reduzir 1,7 mil milhões de euros. Olhando os quadros, porém, fica por perceber como isso se faz, tanto do lado da despesa corrente como na fatia do investimento. Sublinhem-se as dúvidas:
(1) A redução da despesa corrente: os cortes na máquina do Estado (a totalidade dos 17 ministérios e respectivas estruturas) chegará aos 1,1 mil milhões de euros – quase 1% do PIB. Como? Só nas despesas com pessoal assegura-se um corte de 475 milhões de euros. Assim dito, é quase impossível, sobretudo com a já referida promessa de aumento de 2% aos funcionários públicos. Se despedimentos não são possíveis, resta o quadro dos supranumerários ou, em alternativa, alguma forma de redução de salário contra menos horas de trabalho. O Governo não explica.
(2) A redução do investimento público: o quadro comparativo dos investimentos públicos entre Rectificativo e OE2006 parece radical: dos 17 ministérios, apenas quatro conseguem mais verbas do que em 2005: Educação, Administração Interna, Finanças e Administração Pública e Trabalho e Solidariedade Social. Fica por perceber, de novo, como pretende o Governo executar estes cortes. Mas eles estão lá.
Resumindo, percebe-se que existe muita vontade mas alguma falta de ideias. Melhor dito: o Governo quantifica os seus objectivos mas guarda para si a forma de os conquistar. Pode ser eficaz, mas alimenta as dúvidas, esse vírus que tanto mal faz à confiança económica.
por André Azevedo Alves @ 10/18/2005 08:34:00 da tarde
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