A mão esquerda
Procurando escarnecer de um post do João Miranda acerca da auto-organização dos mercados, afirma o Luís Rainha que os interesses de cada um jamais propiciarão o "bem comum".
Tomemos como válida a tese do LR. Para que seja atingido o "bem comum" necessitaremos de algo ou alguém que oriente, regulamente e fiscalize as nossa acções.
Para consiga atingir os objectivos a que se propõe essa entidade deve ser capaz de, a cada momento, saber discernir o que é o "bem comum". A entidade deve ser omnisciente. Deve possuir os meios necessários para forçar as pessoas a tomar as decisões que lhe pareçam mais apropriadas ainda que contrariem os seus desejos individuais. Não deve deixar margem ao livre-arbitrio.
Não estando em crer (a não ser que me engane muito) que o LR se proponha atribuir tais funções a uma entidade divina só posso supor que a toda-poderosa entidade seja composta por seres humanos.
Não acreditando que o LR acredite na existência de super-homens sou levado a acreditar que os humanos que a gerem são do tipo "comum".
Dado que a ominisciência não costuma ser atributo da raça humana presumo que o LR confie num grandioso sistema de recolha e tratamento de informações para suportar as decisões.
Não conhecendo nenhum sistema que, em tempo real, consiga coligir e tratar tal volume de informações sou levado a suspeitar da sua eficácia e começo a suspeitar que a centralização das decisões não é a melhor solução. Talvez os agentes, no local, tomem melhores decisões.
Acreditando que nem toda a informação necessária à tomada de decisões está disponível de forma inteligivel, estando mesmo alguma (grande parte?) indisponível e sendo que alguma (bastante?) é contraditória abandono, por completo, a ideia de impor aos individuos um "comando central". As decisões individuais serão, por regra, melhores.
Por último, lembro-me de uma das minhas primeiras conclusões. A que dizia que seria pessoas comuns a gerir a "máquina". Relembro-me da tese do LR: "as decisões individuais não propiciam o «bem comum»". Penso ter aqui encontrado uma contradição que mina, mortalmente, a minha fé. Ou estipulo que os humanos têm uma mente dual (uma que guia as suas acções individuais, outra que toma o comando quando tomam decisões "colectivas") ou continuo a acreditar que estes tomam sempre decisões que os favoreçam. Lembro-me dos poderes que julgo deverem ser atribuidos ao "orgão decisor central" e estremeço! Se não posso confiar neles para, individualmente, tomarem decisões que me favoreçam porque lhes ei-de eu confiar o comando de uma entidade "toda-poderosa"?
por Miguel Noronha @ 10/18/2005 10:00:00 da tarde
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