Direita e Liberalismo
Tal como o LA e o André, estive, na semana passada, no "Noites à Direita", onde se discutiu o tema "A Direita e a Liberdade". Em consequência do atentado de Londres, adiei a publicação deste post. Aqui fica, agora, o meu relato.
Aviso: dado o atraso de uma hora no começo do evento só tive oportunidade de ouvir as intervenções iniciais de Vicente Jorge Silva [VJS] e António Pires de Lima [APL]. Julgo que, no entanto, pelo conteúdo dos posts do insurgente André e do blasfemo RAF, pouco perdi...
Conforme escrevi em post anterior, acho que existem cada vez mais eleitores descontentes com os caminhos tomados e defendidos pelas políticas socialistas dos partidos portugueses. Liberdade parece ser um conceito com potencial de crescimento no eleitorado, apesar de não ter ainda a relevância necessária para alterar o programa eleitoral dos partidos.
É natural, por isso, que haja uma tentativa exploratória da viabilidade futura de um partido com tendências liberais, sendo de louvar esta iniciativa de indivíduos da direita (liberais ou não). Penso que, eventualmente, surgirá semelhante projecto à esquerda - aproveitando, talvez, o trabalho inicial do Movimento Liberal Social.
Um dos problemas dos partidos de direita com o liberalismo é a comum, mas errada, associação desta ideologia ao sistema totalitário do Estado Novo de António Salazar e Marcelo Caetano. A propaganda socialista e comunista do pós 25 de Abril de 1974 foi de tal modo eficaz que, durante três décadas, bastava alguém dizer "neoliberal" para o eleitorado pensar automaticamente em "fascista"! Outra comum categorização do liberalismo, usada para assustar o eleitorado, é o perigo do "capitalismo selvagem". VJS, o agente provocador do debate, referiu - e muito bem - este estigma dos partidos da direita.
APL, deputado do CDS/PP, em vez de focar o seu discurso nas oportunidades e desafios de uma aproximação dos partidos de direita ao liberalismo, preferiu atacar as políticas dos partidos de esquerda, o peso do Estado (para, logo a seguir, defender o papel do Estado Social...) e criticar a Constituição Portuguesa, ideologicamente socialista. Alías, este disse que sem uma nova Constituição é quase impossível a implementação de políticas liberais.
Estranho, então, que ao ler a Constituição não encontre qualquer obstáculo à privatização das empresas públicas, à liberalização dos mercados de arrendamento e de venda de produtos farmacêuticos, ao fim de subsídios a empresas privadas, à implementação de uma taxa única de impostos, etc.
O entrave não está, inteiramente, na Constituição mas, sim, na maioria da população portuguesa. O texto constitucional permanece com características socialistas porque essa é, afinal, a ideologia predominante. Como a Joana refere no seu Semiramis, "não existe uma tradição liberal em Portugal". E esta é, também, uma das razões porque a direita quando chega ao poder não é liberal: para chegar e manter-se no poder não pode defender quaisquer tipo de políticas liberais.
Na política, tal como numa economia de mercado, são os eleitores (consumidores) que definem quais os produtos e serviços a sobreviver à concorrência. Com uma diferença: no mercado as minorias que não desejam comprar o produto escolhido pela maioria não são a isso obrigadas!
por BrainstormZ @ 7/11/2005 02:37:00 da tarde
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