O que não é o liberalismo
Fui ontem às ‘Noites à Direita’, uma excelente iniciativa do Paulo Pinto Mascarenhas e de outras pessoas que admiro e leio há muito, entre elas o Luciano Amaral (desde o Independente) e o Rui Ramos. Acredito que haja quem no CDS o queira aproximar do liberalismo. Acredito e louvo a intenção. O futuro de um partido de direita está em, mesmo não conseguindo ser liberal, se aproximar dos seus valores e princípios.
Já ontem escrevi que liberalismos são muitos e é impossível um homem só arrogar-se detentor único de todas as suas correntes. É contudo possível dizer o que não é o liberalismo.
O liberalismo não é querer manter-se um Estado social, com menos despesas e menores receitas. Isto é socialismo, social-democracia, democracia-cristã, o que quiserem, mas não é liberalismo. Uma política liberal pode conter políticas públicas, mas quando se aplica num Estado social, ela visa o seu fim. Ora, esta realidade assusta muita gente.
Pelo que pude assistir, no ‘Noites à Direita’, assusta muitas das pessoas que lá estavam. Foram muitos os que se definiram de liberais, mas poucos (ou nenhuns) os que o conseguiram concretizar. Ouvi Pires de Lima defender o liberalismo para logo acrescentar que o Estado social não pode ser desmantelado. Ouvi falar em direito de escolha da segurança social, mas pouco, muito pouco, sobre o que quer dizer exactamente. Pires de Lima afirmou, ainda, que é preciso ser liberal, mas não perder a consciência que um partido que defenda um programa liberal em eleições (como as anteriores), as perde facilmente.
Há algo de confuso nesta discussão. Um governo liberal governa contra o Estado. Um programa liberal precisa de políticos que não esperam o poder por si só, mas para o usar como forma de conter o poder do Estado. Um governo liberal nunca nomeará boys para as empresas públicas pela simples razão de não existirem empresas públicas. Com um governo liberal não haverá TAP pública, nem CP, PT, RTP, EDP e CTT públicos. Um governo liberal não adopta qualquer tipo de políticas proteccionistas, nem entre países civilizados, menos ainda para se proteger de países incivilizados. Um liberal, aliás, não faz esta dicotomia.
O liberalismo é liberdade, liberdade não condicionada. O que podemos discutir é o que entendem os liberais por liberdade. O tema do debate era ‘A Direita e a Liberdade’. Falou-se pouco de uma e de outra coisa. Na verdade, Pires de Lima, falou mais da esquerda que da direita. Não sei porquê, mas foi precisamente o contrário do que se passou com Vicente Jorge Silva que falou da direita e das suas lacunas. O convidado da esquerda foi, aliás, o homem mais pertinente que interveio naquele encontro.
Conto assistir aos próximos debates e espero que ontem tenha sido o começo de uma longa caminhada. Aguardo o ‘abanão’ que possam provocar as futuras intervenções de Luciano Amaral e Rui Ramos, entre outros. Quero ver então se haverá tanto consenso.
por André Abrantes Amaral @ 7/06/2005 01:31:00 da tarde
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