6.4.05

Servidão à escala europeia

A recente discussão sobre a Directiva Bolkstein vem pôr o dedo na ferida sobre a servidão à escala europeia.

Actualmente estou a trabalhar na Suíça. Por razões legais (suíças), a empresa suíça para quem trabalho foi obrigada a contratar-me para trabalhar em Portugal, apesar de na realidade passar a maior parte do tempo na Suíça. Resumindo, estou na Suíça como ilegal e pior que tudo sem seguro de acidentes (fiz um seguro turístico, mas corro o risco de mesmo assim não estar coberto se descobrir a minha situação).

O que tem isto a ver com a servidão e com a directiva Bolkenstein? A Suíça, apesar de não fazer parte da UE, está rodeada de países da União e viu-se obrigada a negociar e a legislar para que não sofra tanto os custos de estar isolada. Assim, a Suíça tem com a maioria dos países da UE acordos de livre circulação de pessoas, baixas tarifas alfandegárias e mesmo em muitos locais da Suíça é possível pagar com euros e receber francos suíços como troco. Quando na UE se começou a falar da Directiva Bolkstein na Suíça prepararam-se logo para negociar acordos bilaterais semelhantes com os países da UE. Felizmente o Chirac poupou-lhes a trabalheira toda.

A Suíça tem uma população envelhecida, um custo de vida alto (mesmo para os suíços) e precisa de trabalhadores novos e mais baratos que os suíços como de pão para a boca. No entanto continua a colocar graves entraves à entrada de trabalhadores estrangeiros. Por estranho que pareça, é comum aparecerem nos jornais donos de pequenas empresas a reclamarem contra a lei suíça porque os seus trabalhadores estrangeiros (que segundo os próprios patrões são exemplares e competentes) em situação ilegal são devolvidos à origem sem apelo nem agravo. E com isto condenadas a fechar, pois não só têm dificuldades em conseguir trabalhadores como os que conseguem encarecem o produto final, retirando competitividade às empresas.

Mesmo com 20% da força de trabalho constituída por estrangeiros (estatísticas oficiais), os governos suíços continuam a defender com unhas e dentes o que eles chamam a "qualidade de vida Suíça", razão pela qual tentam impedir a entrada de emigrantes (sobretudo de fora da Europa).

A servidão na Suíça afecta quer os trabalhadores em procura de melhores condições de vida, quer os patrões que são obrigados a fechar actividades produtivas porque o Estado quer defender a sua "qualidade de vida". Será este o futuro da Europa ?