X, 101
O Washington Post noticia hoje a morte de George Kennan, ocorrida ontem à noite, na sua casa em Princeton, N.J. . Kennan tinha 101 anos e era o mais antigo e respeitado diplomata americano. Foi o autor intelectual da famosa "estratégia de contenção" — a trave mestra da geopolítica americana durante quase toda a Guerra Fria.
A primeira formulação dessa estratégia constava do famoso "longo telegrama", enviado por Kennan a partir de Moscovo, em 1946. Um ano mais tarde, o argumento surgia elaborado naquele que é provavelmente o artigo mais importante publicado pela Foreign Affairs: “The Sources of Soviet Conduct,” escrito por Kennan sob o pseudónimo "X."
Nesse artigo, Kennan argumentava que o poder soviético resultava de uma combinação de elementos ideológicos e circunstanciais. O comunismo era acima de tudo um "meio" para a preservação e difusão do poder soviético. A certeza da liderança política soviética quanto à "inevitabilidade histórica" do triunfo do comunismo tornava-o uma ameaça duradoura que tinha de ser "contida".
Kennan compreendia perfeitamente que o poder não tinha uma dimensão única. Consequentemente, para se atingir o objectivo de limitação e enfraquecimento do poder soviético, a estratégia de contenção não podia ser estritamente militar, mas sim uma estratégia ampla, com dimensões políticas, económicas e culturais.
Não obstante, e como recorda J. Y. Smith no artigo do Washington Post, Kennan era absolutamente contrário a qualquer forma de "proselitismo político", fosse ele democrático ou de outra ordem (destaques adicionados):A touchstone of his worldview was the conviction that the United States cannot reshape other countries in its own image and that, with a few exceptions, its efforts to police the world are neither in its interests nor within the scope of its resources.
O pessimismo quanto à natureza humana levou-o a encarar com suspeição os "excessos" de democracia e a defender o desarmamento nuclear: a possibilidade de "erro humano" envolvia custos "proibitivos".
"This whole tendency to see ourselves as the center of political enlightenment and as teachers to a great part of the rest of the world strikes me as unthought-through, vainglorious and undesirable" he said in an interview with the New York Review of Books in 1999. "I would like to see our government gradually withdraw from its public advocacy of democracy and human rights. I submit that governments should deal with other governments as such, and should avoid unnecessary involvement, particularly personal involvement, with their leaders."
These ideas were particularly applicable, he said, to U.S. relations with China and Russia.
Kennan temia, acima de tudo, que a luta contra o império soviético fosse encarada como um "choque entre civilizações" avant la lettre, que acabaria por colocar em risco os valores constituintes da tradição republicana americana. A luta contra o comunismo não era uma "luta contra o mal", mas uma defesa intransigente dessa tradição política e dos modos de vida prezados pela nação americana. Os bons conselhos não têm idade e a morte de George Kennan mais do que o desaparecimento de "um bom conselheiro" é a morte de um "príncipe do intelecto."
por FCG @ 3/18/2005 10:02:00 da manhã
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