Democracy must be something more than two wolves and a sheep voting on what to have for dinner. - James Bovard
28.2.05
O Estranho Conceito de Democracia do Daniel Oliveira
Na sua coluna do Expresso do último Sábado, o Daniel Oliveira, dirigente e assessor de imprensa do Bloco de “Esquerda”, insurge-se contra o facto do Papa ter, alegadamente, comparado o aborto ao holocausto no seu último livro. Estas supostas declarações servem de pretexto para que o Daniel lembre as alegadas omissões e cumplicidades da Igreja no que diz respeito ao holocausto. Para o Daniel, estas novas declarações sobre o aborto são apenas mais uma prova de que este “Papa conservador” pretende voltar a unir trono e altar e de que a Igreja é equivalente aos Talibans.
Esta posição do Daniel fundamenta-se numa série de equívocos e revela um estranho conceito de democracia.
A democracia não é um regime absoluto e ilimitado.
Em segundo lugar, as acusações que surgiram na última década sobre as omissões ou a mesmo a ‘cumplicidade’ da Igreja Católica no que ao holocausto diz respeito, há muito que foram rebatidas pelos historiadores. Veja-se a este propósito The Pius War: Responses to the Critics of Pius XII, editado por Joseph Bottum, que resume o debate entre historiadores sobre estas questões. Encontra-se disponível na Internet um resumo das conclusões deste livro (First Things 142 (April 2004): 18-25).
Completamente diferente é a questão do direito-dever dos cidadãos católicos, aliás como de todos os demais cidadãos, de procurar sinceramente a verdade e promover e defender com meios lícitos as verdades morais relativas à vida social, à justiça, à liberdade, ao respeito da vida e dos outros direitos da pessoa. O facto de algumas destas verdades serem também ensinadas pela Igreja não diminui a legitimidade civil e a “laicidade” do empenho dos que com elas se identificam, independentemente do papel que a busca racional e a confirmação ditada pela fé tenham tido no seu reconhecimento por parte de cada cidadão. A “laicidade”, de facto, significa, em primeiro lugar, a atitude de quem respeita as verdades resultantes do conhecimento natural que se tem do homem que vive em sociedade, mesmo que essas verdades sejam contemporaneamente ensinadas por uma religião específica, pois a verdade é uma só. Seria um erro confundir a justa autonomia, que os católicos devem assumir em política, com a reivindicação de um princípio que prescinde do ensinamento moral e social da Igreja (fonte).
O estranho conceito de democracia do Daniel
Mas o que sobressai do comentário Daniel é um peculiar conceito de democracia.
E os cidadãos que professam a fé católica serão eles cidadãos de 2ª sem direitos políticos ?
Nas sociedades democráticas todas as propostas são discutidas e avaliadas livremente. Aquele que, em nome do respeito da consciência individual, visse no dever moral dos cristãos de ser coerentes com a própria consciência um sinal para desqualificá-los politicamente, negando a sua legitimidade de agir em política de acordo com as próprias convicções relativas ao bem comum, cairia numa espécie de intolerante laicismo. Com tal perspectiva pretende-se negar, não só qualquer relevância política e cultural da fé cristã, mas até a própria possibilidade de uma ética natural. Se assim fosse, abrir-se-ia caminho a uma anarquia moral, que nada e nunca teria a ver com qualquer forma de legítimo pluralismo. A prepotência do mais forte sobre o fraco seria a consequência lógica de uma tal impostação. Aliás, a marginalização do Cristianismo não poderia ajudar ao projecto de uma sociedade futura e à concórdia entre os povos; seria, pelo contrário, uma ameaça para os próprios fundamentos espirituais e culturais da civilização (fonte).
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