28.6.06

Pontos de Fuga

O Bloco de Esquerda parece ter acordado da letargia em que andava e vem propor que os medicamentos não sujeitos a receita médica devem ter um preço máximo fixado pelo Estado, por forma a evitar que, fora das farmácias, cada vendedor escolha o preço que lhe apeteça, nomeadamente seja impedido de vender medicamentos a preços exorbitantes. Note-se como, uma vez mais, esta medida poderá ganhar simpatia da generalidade da opinião pública, porque tem como objectivo a saúde de todos nós. E a saúde é actualmente, como já várias vezes venho referindo, o terreno em que mais facilmente as pessoas aceitam a supressão das suas liberdades. Mas adiante. Mas quais são, de forma leiga, os efeitos de uma medida como essa?###

a) Absoluta marginalização do consumidor - O consumidor deixa de ser tido e achado na definição dos preços, uma vez que a tabelização dos preços é nacional e esquece as particularidades das necessidades de cada zona. Tanto faz se no Norte se compram milhares de anti-gripais e no Sul apenas se comprarem dezenas que o preço máximo aplicável será o mesmo.
b) Subida dos preços médios – A imposição de um tecto máximo torna o mercado ligeiramente mais previsível. Os vários vendedores sabem até onde poderão subir os restantes e a tentação de todos subirem ligeiramente os preços, de forma concertada, é muito maior do que num mercado em que os vários vendedores desconhecem as intenções uns dos outros.
c) Subida dos preços baixos – Se os preços mais altos tiverem de ser reduzidos por forma a cumprir com a imposição legal, nem por isso os vendedores deixam de ter custos. Para lhes fazer face, terão de subir ligeiramente os preços mais baixos, de forma a permitir ter aí mais lucro que compense as perdas.
d) Abandono dos produtos mais penalizados pela lei – Ao não obter lucro suficiente com determinados produtos, o vendedor optará por deixar de os vender e eventualmente os mesmos deixarão de estar disponíveis a um maior número de pessoas.
e) Limitação da inovação e do empreendorismo – Ao fixar um tecto de preços, os vendedores dispostos a inovar e a empreender esforços na sua actividade deixarão de o fazer porque não poderão ser pagos por isso.

O resultado de uma medida como esta seria mais penalizador para o consumidor do que a fixação livre dos preços. Insistir na diabolização do lucro é fácil e tentador, mas nem sempre corresponde à verdade.