Se
Disgrace
São obviamente muito apreciáveis todas aquelas criaturas corajosas que sempre se põem a denunciar a discriminação contra os drogados, os gays, as mulheres e restantes desgraçados da civilização ocidental. É sem dúvida uma actividade recomendável, cujo principal interesse reside no facto de precisamente ser exercida naquela parte do mundo em que melhor se tratam os ditos desgraçados. Mais estranho é não vermos as mesmas criaturas tão acirradas quando as coisas acontecem fora do Ocidente, em particular envolvendo regimes ou governantes que lhes merecem muitas simpatias.
Por exemplo, as nossas redacções de jornais tão infestadas daquele género de criaturas passaram praticamente ao lado da história do julgamento do ex-vice-presidente sul-africano Jacob Zuma, por suposta violação.
Para encurtar uma longa história, Zuma (de 64 anos) foi acusado por uma mulher com cerca de metade da idade de a ter violado. A mulher era uma amiga da família de Zuma desde a infância e tratava-o por “tio”. A defesa de Zuma assentou em dois pontos: primeiro, em que o sexo entre os dois tinha sido consentido por ambos; segundo, e mais, que a dita mulher o tinha encorajado a ter sexo com ela ao trazer vestida uma “saia pelos joelhos” e ao “não ter cruzado as pernas” quando se sentou em frente a Zuma num sofá para conversar com ele. O juiz aceitou esta versão dos acontecimentos, contra a da acusadora, e ilibou Zuma. Mas várias coisas curiosas ocorreram durante o julgamento.###
Enquanto durou, a mulher foi quotidianamente recebida à porta do tribunal com pedradas lançadas por apoiantes de Zuma (do partido no governo, o ANC) e aos gritos de “Arde, puta!” e “Vais morrer”. Depois, a defesa de Zuma invocou um magnífico argumento “multicultural”. Segundo ela, faz parte da “cultura zulu” (a tribo de Zuma) não deixar uma “mulher excitada” por “satisfazer”, pelo que Zuma terá, constatando a sua “excitação”, precisamente tratado de a “satisfazer”. Enfim, descobriu-se que a mulher estava infectada com o vírus da SIDA e que Zuma sabia, mas mesmo assim teve sexo com ela. Zuma defendeu-se dizendo que, depois de a “satisfazer”, “tomou um duche” para diminuir o perigo de contágio. Isto num dos países do mundo com maior taxa de infecção pelo HIV e vindo da parte do antigo responsável do Conselho Nacional para a SIDA. Quando grande parte da propaganda contra a SIDA em África passa pelo apelo à monogamia e ao uso do preservativo, trata-se, evidentemente, de um belo exemplo. Tanto mais quanto Zuma é polígamo, já que tem duas mulheres, para além de ser divorciado de uma terceira e viúvo de uma quarta (ah, ganda Zuma!). Entretanto, devido ao grau de ameaças de que foi alvo, a senhora está sob protecção policial e vai abandonar o país, por razões de segurança pessoal.
Enfim, uma história edificante do princípio ao fim, que prenuncia uma vida difícil a futuras acusadoras de violência sexual, em particular se o perpetrador for membro do ANC. Estamos aqui em plena África do Sul pós-Apartheid, mais um farol da humanidade, juntamente com a Bolívia de Morales e outros países do mesmo género. É o progresso da humanidade em direcção a um eterno futuro radioso, sem dúvida.
por Anónimo @ 5/11/2006 02:46:00 da tarde
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