Os sinos dobram por nós
O mito finlandês
Achada num canto da Europa, a Finlândia surgiu nos últimos meses como um modelo que todos os estados europeus anseiam por imitar. Porque nos cabe desconfiar de padrões apresentados como exemplos de progresso e remédio imediato dos nossos males, é importante centrar a nossa atenção no que se passa por terras finlandesas.
A Finlândia conseguiu a sua independência em 1917, depois de libertada do jugo russo e sueco, a que ficou sujeita desde o século XII. Como a qualquer país nascido paredes meias com a URSS, a vida não correu fácil. De tal forma assim foi que, com o desmembrar da União Soviética, a sua economia ia indo por arrasto. Em 1990, os finlandeses atravessaram a maior recessão da sua curta história, que como todas as recessões, foi marcada por um alto índice de desemprego. Depois e de repente, qual milagre, quase tudo mudou.
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A sua rápida recuperação económica, cuja imagem de marca é a Nokia, levou os europeus a admirarem a Finlândia e a verem nela a garantia de que o Estado social ainda é compatível com o crescimento económico. Mas será mesmo assim? Com uma forte aposta das políticas públicas no desenvolvimento das novas tecnologias e no surgimento de uma sociedade do conhecimento e super especializada, os finlandeses procuraram acertar agulhas com o tempo. Ao fazê-lo, o Estado investiu forte e feio em mercados muito específicos. Tanto, que acabou por ser acima do necessário. Vejamos como.
Tal qual todas as rosas a Finlândia tem espinhos. Mais precisamente três. Uma alta taxa de desempregados (só os jovens são mais de 20%) que conduz à pobreza e exclusão social; uma estranha falta de candidatos para determinados trabalhos e por fim o terceiro, mais grave porque mais profundo e de difícil resolução, uma fraca capacidade empreendedora que caracteriza os finlandeses. Comecemos pelos dois primeiros: O investimento no conhecimento e na tecnologia foi tanto que há excesso de especialistas nestas matérias e um défice de trabalhadores para outras funções sempre indispensáveis. Ou seja, há demasiados desempregados para certos empregos e muitos outros trabalhos com poucos candidatos. Com uma das mais altas taxa de desemprego da União Europeia (a rondar os 8.4%), o mercado laboral não funciona.
Os finlandeses são muito pouco empreendedores. A crença no sucesso é tão grande e certa que o medo do falhanço é enorme. O risco é uma palavra que não existe nos seus dicionários. A Finlândia vive na abundância, mas está estagnada. Ela colhe o preço de ter deixado o Estado apontar um caminho único. O resultado está vista: São tantos a saber do mesmo, que nem todos são precisos.
O modelo finlandês demonstra que o Estado quando indica o trilho do desenvolvimento, este é de sentido único, fixo, não se acomoda às mudanças e porque forçado, afunila sobre si a sociedade, não permitindo o surgimento das mais valias de cada um. Os cidadãos ficam estáticos e amorfos, limitando-se a esperar pelo passo seguinte, matando a maior riqueza humana que é a sua espontaneidade. No fundo, torna o desenvolvimento um fim em si mesmo e não um meio ao serviço dos cidadãos.
por André Abrantes Amaral @ 5/24/2006 01:51:00 da tarde
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