Se
Camp Freedom
Não é que não se tenha já visto de tudo. Mas teria especial graça ver a habitual malta da indignação defender a prisão de Guantánamo. Sobre Guantánamo já se disse o inimaginável, até que era “o Gulag dos tempos modernos” (expressão imortal que a humanidade deve à Amnistia Internacional). Guantánamo faz parte indissociável do folclore contra a guerra do Iraque e, portanto, nunca será motivo de qualquer discussão com um mínimo de racionalidade. Como é evidente, nunca ninguém quis discutir seriamente o problema levantado pelos detidos de Guantánamo: como devem ser tratados, face ao direito interno dos Estados e ao direito internacional (em particular, ao direito da guerra), combatentes que não são soldados nem vulgares criminosos? Os EUA encontraram uma solução, que até podemos admitir não ser muito satisfatória, mas que tem a óbvia vantagem de ser uma solução. Sobretudo, face àquilo que se propõe como solução alternativa e, na realidade, não é solução nenhuma: o seu julgamento à luz do direito americano, como se não existisse nenhuma diferença qualitativa entre um membro da Al-Qaeda (ou um Talibã) e um vulgar criminoso de delito comum americano.###
Mas também não é isso ao que venho. É mais para falar das aparentes “dificuldades” que a Administração americana tem tido para libertar prisioneiros de Guantánamo. Os EUA querem libertar cerca de 150 desses prisioneiros, que consideram não representar já “ameaça” à segurança do país. Só que, ou ninguém os quer receber, ou então os EUA consideram que seria entregá-los à morte ou tortura certa. Os Talibã, por exemplo, não são desejados no Afeganistão. Cerca de 20 chineses muçulmanos não têm local para onde ir. Os EUA recusam-se a entregá-los à China, porque sabem qual seria o seu destino. Por isso, continuam à procura de um país de acolhimento, mas sem êxito. Mesmo a Alemanha, onde já existe uma comunidade de exilados muçulmanos chineses, não quer receber mais. No Paquistão, sabe-se a sorte que teriam. E por aí fora.
Rico gulag este, de onde os presos nem sequer querem sair. É por isso que sugiro à rapaziada do costume que comece a preparar as próximas manifestações. Já estou a ver os cartazes:
“Bush = Hitler, Keep Prisoners In”
ou “Assassins: Don’t Close Guantánamo”
ou “Guantánamo: prender é libertar”
ou “Todos ao Largo Camões para a Grande Manifestação a favor da prisão de Guantánamo: Eles Mentem, Eles soltam prisioneiros”.
Não é provável que aconteça. Mas é como digo, já vi de tudo…
por Anónimo @ 4/28/2006 11:53:00 da manhã
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