Os sinos dobram por nós
Uma renovação necessária e urgente
Um ano após a chegada de Sócrates ao poder, o país regressa ao deserto consensual das ideias. Tal qual com Cavaco há 20 anos, os partidos da oposição não demonstram capacidade em inovar e rebater a agenda do governo, limitando-se a esperar a falência da fórmula usada. O gosto pela unanimidade faz parte da nossa essência e parece querer continuar.
Há meses atrás, a toda a hora se ouvia o quanto era preciso reduzir a função pública, que a segurança social tinha os dias contados, que íamos ficar mais pobres e por aí fora. Hoje, os portugueses sossegaram com a presença de um primeiro-ministro que se assume determinado e teimoso. O povo gosta e a oposição agradece enquanto espera por melhores dias.
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Sucede que a democracia não é isto. Ela pressupõe o surgimento e troca de ideias. Implica uma oposição aguerrida e alternativa não apenas ao poder, mas à forma como este é encarado, apontando-se, não nuances às políticas do governo, mas um outro caminho. Ora, o que temos em Portugal são dois partidos, como o PSD e o CDS, escravos e envergonhados do passado. Com vergonha do Estado Novo e horror ao PREC, nunca foram capazes de fugir ao estigma da direita. Por ignorância e uma certa preguiça política, não foram hábeis em inovar nas políticas públicas.
30 anos após a entrada em vigor da Constituição (que se completam no próximo 25 de Abril) e quando o PS ocupa o espaço social-democrata do PSD, estaria na hora de mudar. Em 1979, Sá Carneiro defendeu, e conseguiu, unir a direita num projecto à época arrojado que poria termo ao status quo, extinguiria o processo revolucionário para uns ainda em curso e, mais importante que tudo, daria origem a uma direita não socialista e descomplexada. Muitos se lhe opuseram e apenas a morte o parou. No meu ponto de vista, falidos que estão PSD e CDS, é altura para surgir um novo partido político que aglutine todos os não socialistas. Um projecto que defenda uma verdadeira mudança nas políticas públicas, como a defesa dos vouchers na educação, a introdução de um verdadeiro ensino privado com a última palavra dada às famílias ao invés de ser atribuída ao Estado, o fim do monopólio da segurança social, a liberalização da lei laboral, a introdução do sistema da flat tax no sistema fiscal português e por aí fora.
O surgimento de um novo partido à direita do espectro político não deveria ser apenas uma fantasia, mas uma precaução para o futuro. A Itália, retirou esta semana o poder a Berlusconi que falhou no seu objectivo de relançar a economia italiana. A aposta da direita italiana no populismo é um bom aviso para um país como o nosso que não deve esquecer porque uma grande maioria do eleitorado votou PS nas últimas eleições. Se o governo socialista falhar e o país caminhar para o marasmo, não se espante a direita se passar por uma experiência semelhante à da Itália. Até porque, qualquer pessoa com um pouco de atenção comprovará a existência da perigo e de onde ele bem pode vir.
por André Abrantes Amaral @ 4/12/2006 11:42:00 da manhã
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