A traição
A gravidade da revolta estudantil em França, não está apenas na incapacidade de Paris em acalmar as hostes. Não consiste tão só no cada vez maior número de desempregados daquele país. Ela está no ajuste de contas que se indicia para breve. Traduz-se na revolta de uma geração (na casa dos 20 anos) que se sente ostracizada por aqueles que fizeram e aplaudiram o Maio de ’68.
Nada do que se passa em França é novidade. Tudo era esperado, previsível e tantas vezes foi anunciado nos últimos anos: O estado social não chega para todos e, não havendo reformas, alguém terá de ficar de fora. No entanto, a maioria, imbuída do egoísmo de quem se sente seguro, pouco ligou a estes alertas. Por cada dia adiado, as mudanças tenderão a ser mais brutais. Os jovens que hoje batem à porta do estado social francês, vêem negada a sua entrada, não por um governo que está em exercício há pouco tempo, mas pelos seus próprios pais que não ousaram largar o cuidado paternalista do estado.
O que está ainda para perceber é se a dita geração do Maio de ’68, tão lembrada na sua paixão pela liberdade, não terá sido traída pelas ideologias da época. Tanto amavam a independência, que se entregaram à força do Estado. Não souberam encontrar a liberdade fora dele e, à conta desse engano, traíram os seus filhos. É esse sentimento de traição que se ouve e sente na capital francesa.
Ou o governo se aguenta, ou muita lágrima vai correr em Paris.
por André Abrantes Amaral @ 3/21/2006 01:59:00 da tarde
<< Blogue