20.3.06

Será que se curam os males do Socialismo com mais Socialismo?

O falhanço do capitalismo para garantir as condições de vida para a maioria da população precisa de justificações ideológicas que proporcionem o consenso subjugado das grandes massas: nada como convencer um desempregado, que é para seu bem que vive na miséria…

(...)

A situação dos jovens franceses é a esse respeito bem elucidativa da cegueira destas mezinhas ideológicas, disfarçadas de medidas económicas.
1. A taxa de desemprego dos jovens até 30 anos atinge 30% (nos subúrbios chega aos 60%). Para comparar é preciso revelar dois factos: a taxa de desemprego dos trabalhadores com mais de 50 anos é de 7,7% e em 1970, a taxa de desemprego dos jovens era só de 4%. Vinte anos de políticas, cada vez mais, neoliberais resultaram mais 20% de desemprego.
2. Enquanto o poder de compra médio da população francesa cresceu regularmente nestes últimos 20 anos, o da população com menos de 35 anos desceu 5%. Pela primeira vez, ganha-se mais reformado aos 66 anos do que a trabalhar entre os 30 e 35 anos. Segundo as estatísticas existem 600 000 jovens pobres em França.
3. Em 1975, a taxa de desemprego entre os licenciados e baixareis era de 6%, hoje em dia, ela ultrapassa os 25%.
4. Em 1982, a média etária dos representantes políticos e sindicais era de 45 anos; em 2006, é de 59 anos. As políticas são velhas e o poder está caduco.

Nuno: a França, nos últimos quarenta anos, não assumiu nenhuma solução liberal em matéria laboral e de Previdência. O falhanço de que falas em França - e está de facto muito bem descrito - é o do Socialismo, e não do Liberalismo: assalto geracional dos mais velhos aos mais novos, incapacidade de renovação do tecido produtivo, sociedade envelhecida que apenas se preocupa com a segurança, ignorando que para catapultar os ganhos é necessário promover uma cultura de risco, proletarização dos emigrantes em favor do Estado Social. Os fenómenos de globalização têm desmatelado muitas das situações fictícias de base socialista construídas ao longo de décadas, parcialmente financiadas à custa da pobreza do mundo. Estes ajustamentos que as sociedades mais proteccionistas estão a sofrer são socialmente dolorosos, dor essa que se acentua sobretudo porque se procura aliviar o sofrimento com receitas e soluções à base de Aspirinas B's (não sei como se curam doentes com arsénico...).###

Mais:

A inépcia da política económica neoliberal é total. O famoso Consenso de Washington sistematizado pelo FMI, Banco Mundial levou à bancarrota Argentina e à destruição de grande parte da economia da América Latina.
Meu caro Nuno: a agonia da América Latina não resultou das políticas liberais, mas sim do proteccionismo (marcadamente anti-liberal) dos países desenvolvidos - entre os quais a França e os EUA - que sempre asfixiaram as economias em desenvolvimento. No caso particular da Argentina, o erro - fatal - resultou da má arbitragem da dívida, excessivamente alocada ao dólar, sem a devida cobertura cambial.

Podem os «acólitos» do Socialismo pregar as suas ideias místicas, mas a realidade encarrega-se de os contrariar. A «protecção» do emprego ajuda apenas os que estão no mercado de trabalho e aí se mantêm ficticiamente, escudados por artifícios jurídicos, em prejuízo e potenciando o empobrecimento dos mais jovens, que não têm por isso a possibilidade de demonstrar o seu valor: o que «pesa» mais aos 26 anos, não será a possibilidade de ter um trabalho onde possam atestar a sua competência e a sua mais-valia? Ou devem os jovens no mundo de hoje começar logo a vida activa obcecados com a «segurança»? Haverá no século XXI sociedades sem risco?

Rodrigo Adão da Fonseca