Se
Habituem-se
Parece que o Presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, não gostou muito do resultado das eleições israelitas. Podia ter sido pior, mas, apesar de tudo, venceu o Kadima de Ehud Olmert (e Ariel Sharon), cuja solução para o “problema palestiniano” é a retirada, decidida unilateralmente por Israel, dos chamados territórios ocupados (ou das partes das quais se decida unilateralmente retirar). Abbas não gosta da ideia. Porque, para o efeito, não deve ser apenas a vontade de Israel a contar. A retirada, diz Abbas, tem de ser “negociada”. O primeiro-ministro da AP, Ismail Haniyeh, do célebre e pacato movimento Hamas, também não gosta, e pelas mesmas razões: “neste momento, o que vemos e o que foi declarado é um plano de separação unilateral de Olmert. Esse plano é rejeitado pelo povo palestiniano”. Claro que o mundo em redor também preferiria a retirada negociada, mas há alguns requisitos prévios a cumprir a fim de se concretizar a possibilidade.###
Assim de repente, ocorre-me, por exemplo, que o primeiro-ministro palestiniano reconheça o direito de Israel a existir. Se é verdade que o movimento do Presidente (a também célebre e pacata Fatah) se dispôs em 1993 a dar esse passo para consumo externo, também não é menos que para consumo interno continua a pregar a extinção de Israel e dos judeus, e a divulgar mapas da Palestina onde Israel não existe (v. imagem anexa). Do que resulta um cenário interessante: os responsáveis políticos palestinianos querem “negociar” com uma entidade a cuja existência negam legitimidade ou, sequer, o direito a existir. Parece uma contradição nos termos: como se pode negociar com uma não-entidade?
Na análise do conflito israelo-árabe só é enganado quem quer: os responsáveis políticos palestinianos não desejam nem nunca desejaram reconhecer o Estado de Israel. É por isso que qualquer “negociação”, como pedem Abbas e Haniyeh, não passa de um logro. Não passa, invertendo a fórmula de Clausewitz, da utilização da diplomacia ou da política para continuar a guerra por outros meios. Foi isto que Sharon e Olmert perceberam bem. E para se livrarem daquele fardo que só traz problemas, conceberam um programa simples: constroem o muro, para controlar bem a rapaziada das bombas, e, do outro lado do muro, é lá com eles. Se quiserem, rebentem-se uns aos outros na paz de Alá.
Abbas e Haniyeh não gostam? Querem uma “paz negociada”? Reconheçam sem ambiguidades nem meias palavras o Estado de Israel e talvez a obtenham. Não reconhecem? Então, como dizia o outro, habituem-se.
por Anónimo @ 3/31/2006 10:44:00 da manhã
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