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Full Circle
Dantes era a castidade, a virgindade até ao casamento, o casamento para a vida, o sexo marital, apenas heterossexual e exclusivamente para reprodução. Importa pouco que grande parte disto não passasse de hipocrisia. O homem sempre se iniciou cedo, seja por via de métodos autogestionários, seja através de saudáveis idas “às putas”, e sempre se divertiu fora do cadeado do casamento, distribuindo-se liberalmente por uma ou mais “amásias”. A mulher também nunca dispensou a autogestão, nem sequer a gestão conjunta, coisa que tantas vezes redundava nos chamados casamentos “de penalti” ou nas crianças que “não saíam ao pai”. Mas a verdade é que as regras sociais informais e a legislação criminalizando o adultério ou a homossexualidade, ou praticamente proibindo o divórcio, sempre domesticavam a libido. Depois, veio 1963, o ano em que as “relações sexuais” foram inventadas. Veio a revolução sexual. Ainda foi possível, em 1960, tentar proibir em Inglaterra e nos EUA o livro de DH Lawrence, O Amante de Lady Chatterley, só por ser um bocadito mais colorido na descrição das ditas cujas “relações sexuais”. Nada de semelhante se repetiria a seguir.###
Ao princípio, a revolução sexual foi-o apenas para alguns jovens mais ou menos bem-nascidos, mas à medida que o tempo passou transformou-se em “património cultural” das sociedades ocidentais. Quem hoje entre numa escola secundária e veja a rapaziada entretida durante o “intervalo” em magníficas cenas de “marmelada” (no meu tempo chamávamos-lhes “os meles”, embora para o fim se usasse já o brasileirismo da “curte”), não imagina o que eram as coisas há 20 anos. Lembro-me ainda como, em 1983, a Igreja Católica conseguiu interromper a emissão televisiva do Canal 1, na noite em que passava uma (pseudo) comédia-(pseudo)erótica italiana, simplesmente porque nela aparecia uma menina bamboleando as mamas (fora isso, pouco memoráveis). Nem vale a pena perder tempo a descrever a actual programação televisiva normal, sem sequer mencionar as vastas possibilidade que o “cabo” (sem trocadilho) oferece, ou até a Internet. Hoje, as restrições ao sexo praticamente não existem, e as que existem quase que dependem apenas da (como agora se diz) “capacidade performativa” dos “agentes” envolvidos no “acto”.
Talvez por isso mesmo tenhamos já dado a volta toda e chegado outra vez ao ponto de partida. Ocorre-me esta ideia, a propósito de uma coluna publicada no domingo, pelo Diário de Notícias, da autoria da psicóloga Marta Crawford, também autora de um programa na TVI dedicado ao sexo e com o didáctico nome de AB…Sexo. Marta Crawford escreve sobre o sexo anal e procura tornar a experiência o mais normal e agradável possível a quem decida experimentá-la, nunca abandonando o seu tom didáctico. Com grande utilidade, Crawford trata logo de explicar que “a penetração anal é diferente da vaginal” e que por isso deve ser preparada com “cuidado e paciência”. Por exemplo, é necessário “usar lubrificantes”, porque “o ânus não é tão elástico quanto a vagina”. Para além disso, “o ânus deve ser estimulado com a introdução de um dedo, e só mais tarde com o pénis”. Só assim “a musculatura anal relaxa”. Não parece que o objectivo de Crawford seja, aqui, emular literariamente Lawrence, em particular naquela passagem de Chatterley em que descreve o sexo anal como um acto de caça. Quando muito, o objectivo é emular os relatórios do Banco de Portugal.
Mas os mais importantes conselhos de Crawford referem-se à “limpeza”. É precisa muita “limpeza” e, para além da lavagem externa, Crawford aconselha a lavagem interna, podendo mesmo, se necessário, utilizar-se “um clister, para esvaziar os intestinos”. Um clister? Por amor de Deus, um clister? Será que Marta Crawford já fez um clister? Poucas coisas que fiz na vida foram piores do que um clister. Se, para ter prazer sexual, devemos passar pela tortura máxima do clister é porque chegámos mesmo ao fim da linha. Bem o viram Sayyd Qutb e Osama bin Laden, que explicam a decadência ocidental pelo sexo e a relação entre homens e mulheres. Efectivamente, quem faz clisteres para ter sexo está mais do que pronto para a burqa e a “submissão” (que é o que significa a palavra Islão). Ao homem, certamente, mas, já agora, também a Alá (quem sabe se com a ajuda do sexo anal).
por Anónimo @ 3/03/2006 12:59:00 da tarde
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