Às avessas
O Filipe Moura abriu ontem, pela calada, o seu blogue chamado o Avesso do Avesso. O ‘post’ Ser-se de direita, promete pistas para uma boa conversa futura. Por exemplo, diz o Filipe: sempre me escandalizou como os comerciantes poderiam decidir vender os bens de consumo aos preços que bem lhes apetecesse, sem controlo. Vou ser sincero Filipe, quando te digo que todo o escritório onde trabalho me ouviu a rir. Mas como sou um tipo decente, não contei a ninguém a razão das minhas gargalhadas. É que, Filipe, nem todos aceitam os idealistas tão bem quanto eu. Passando da sinceridade à seriedade, quero apenas dizer-te que nunca os comerciantes podem decidir vender os bens de consumo aos preços que bem lhes apetece. Eles são controlados pelos consumidores. São estes quem estabelecem os preços que variam conforme as suas conveniências.
Falas muito da esquerda e da direita, das qualidades de uma e dos defeitos da outra que aprendeste a tolerar. Sucede que existem várias direitas (tal qual se encontram diferentes esquerdas) e há direitas às quais nunca poderia eu pertencer. Onde não me revejo. Não queria puxar a brasa à minha sardinha, mas para a direita liberal, à qual ainda te posso ver a aderir, não devem existir explorados porque uma maior ênfase é dado à pessoa humana, ao indivíduo, em detrimento do colectivo. Tu achas que as pessoas, nas sociedades de mercado, aceitam ser exploradas em troca de uma vida melhor. Eu acrescento que elas têm aceitado ser exploradas sim, mas pelo Estado. Pelo demasiado poder que lhe foi atribuído, um processo para o qual o marxismo tanto contribuiu. Mas, mais que tudo, nunca compreendi esta condescendência paternalista que a esquerda tem por nós. A ideia que as pessoas, porque pobres de espírito, escolhem perder a liberdade para viverem melhor. Não compreendo, porque mesmo sendo verdade, estão no seu direito em escolher assim. Qual o interesse em, partindo de uma pretensa superioridade, procurar instruir os outros a seguir o nosso caminho? Quem somos nós para decidir o que é melhor para os outros? Todos fomos treinados a acreditar que tudo pode ser resolvido por um poder central, como um passo de mágica. Não pode. A força da mudança está em cada um de nós, e é nesse esforço individual que se encontra a esperança de um mundo melhor. São breves notas, mas encontra-se aqui um pouco das muitas razões por que não sou de esquerda e, em certa medida, por que sou liberal.
por André Abrantes Amaral @ 3/02/2006 01:39:00 da tarde
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