A ligação do Estado à internet não é uma reforma
As medidas de modernização administrativa apresentadas ontem como se de grande reforma se tratassem, não deixando de ser positivas, merecem alguns comentários. Em primeiro lugar, elas não são uma qualquer reforma digna desse nome. Limitam-se a uma adaptação da máquina burocrática do Estado aos novos tempos. Aos tempos da informática. Qualquer reforma é suja, difícil e pronta a deixar a maioria moída de raiva, indignação e confundida em revoltas. Ora, as medidas que o primeiro-ministro nos mostrou ontem, são de fácil aceitação, de tão óbvias e naturais que são. Agora podem-se consultar online processos de execução fiscal. Big deal. Não há aqui qualquer mérito do governo, mas do técnico informático. Estas medidas fazem, aliás, lembrar a abertura das lojas do cidadão pelo Eng. Guterres: Uma enorme reforma, o pôr todos os serviços num mesmo edifício…
Mas há mais. Estas decisões surgem, como apenas só podiam surgir, num Estado egocêntrico e nascisista. O Estado reconhece que é lento, burocrata e, em certos momentos, a rondar raia da estupidez e agora, com algumas pinceladas, surge, qual bom samaritano, pronto a ajudar aqueles que apenas querem fazer o seu trabalho e se vêem envolvidos nas suas teias. E como todo o samaritano narcisista, quer ser reconhecido. Mas, como mencionado no parágrafo anterior, estas medidas de modernização administrativa não são uma reforma. As reformas são difíceis e não deixam todos contentes. São o mínimo que devia ser feito e sem festa, lançamento de foguetes e cocktails. Dito de um modo cru: O serem apresentadas em Março de 2006 é uma vergonha, não motivo de orgulho.
por André Abrantes Amaral @ 3/28/2006 11:29:00 da manhã
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