Egoísmos
O Estado Social criou o paradoxo de que fala o RAF no último parágrafo deste post e as suas maiores vítimas, num estado próximo da toxicodependência, pedem mais.
O individualista, egoísta ou que lhe quiserem chamar, é alguém que não evita, antes exige, a responsabilidade de assumir as atitudes fundamentais que o definem como pessoa: vontade, julgamento e escolha. A desresponsabilização inerente ao Estado Social como o conhecemos, criou o pior tipo de egoísmo. ###
Numa das definições aceites, considera-se egoísta quem se preocupa apenas consigo próprio e olha apenas aos seus interesses, em detrimento dos alheios. Mesmo este egoísta tem alguma nobreza. Tem pelo menos propósitos bem definidos, não prejudica a não ser que tenha interesse nisso e tem a consciência do mal que eventualmente faça. É o egoísta “maquiavélico” que encontra sustentação teórica na leitura (ou não) apressada e literal de O Príncipe. Há também o egoísta que se preocupa em defender os seus interesses, não interferindo com interesses alheios. É a atitude egoísta de “longo prazo” consciente que a vida em sociedade não é um jogo de soma nula.
O egoísta potenciado pelo Estado Social é de outro tipo. É o único a quem não é possível reconhecer um propósito que ultrapasse o curto prazo, um objectivo que seja ou um conjunto de valores (certos ou errados) que lhe sustentem o egoísmo. É o que se comporta como o primeiro, sem a consciência dos efeitos sobre os outros, sem um propósito, ao mesmo tempo que exige a solidariedade alheia. É o que requer a solidariedade inter-geracional, cada vez mais alto à medida que envelhece, sem perceber que a única maneira de ser solidário seria abdicar dela. É o que não vê (convenientemente) a canga a que condena a geração seguinte. É esta conversa ouvida no elevador:
Indivíduo 1: “-…é por isso que estou de baixa.”
Indivíduo 2: “ - E nós a pagar a tua baixa.”
Indivíduo 1: “ – Vocês não. É o Estado que paga.”
Chama-se a isto solidariedade. Da última vez que vi era responsabilidade mútua. A desresponsabilização levou ao fim da reciprocidade, já não são os outros concretos, é o Estado. Isto é o que Ayn Rand chamava “selfishness without a self”. O “Eu” desta gente é inefável, não existe. A existir implicaria o reconhecimento de outros “eu” e por consequência, a consciência do prejuízo causado. As vítimas e defensores do Estado Social abdicaram de si próprios como via de fuga à generosidade e solidariedade. Não têm qualquer responsabilidade sequer perante si, como podem tê-la perante os outros?
Solidariedade
s. f.,
responsabilidade mútua;
reciprocidade de interesses e obrigações;
Generosidade
s. f.,
liberalidade;
magnanimidade.
Egoísmo
do Lat. ego, eu
s. m.,
conjunto de propensões ou instintos que levam à conservação do indivíduo.
por Helder Ferreira @ 3/03/2006 06:38:00 da tarde
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