A fraqueza dos ‘impossíveis’
Sempre que na blogosfera dita liberal se defendem políticas novas e referem propostas para as concretizar, é lembrada a sua impossibilidade prática e, por vezes, o pecado que é a irrealidade das mesmas. Há aqui dois factos que devem ser tidos em consideração. Em primeiro lugar, quem escreve na blogosfera não exerce cargos políticos. Menos ainda (e agora falo por mim, mas julgo que também pela maioria) tem contacto algum com as esferas do poder. Por sua vez, àqueles que sempre vaticinam tudo como impossível, deve ser lembrado as tantas vezes que o impraticável se tornou viável.
É verdade que o afastamento do poder pode conduzir a uma certa leveza no argumento, mas essa possibilidade, não tem de ser a regra. Ele pode levar à liberdade, a uma liberdade rigorosa e prestigiante. Aquela liberdade de quem ganha mais falando o que pensa, expondo e baseando a sua reflexão. Quem olhe para os EUA, depara com inúmeros colunistas sempre críticos (positivamente críticos) da actuação dos políticos, mas também sempre prontos a tomar a posição que julgam mais acertada. O segredo do sucesso está em se saberem explicar e a sagacidade do raciocínio é a sua arma. Assim sendo, quem escreve deve ter em atenção as realidades, mas também não se pode prender a elas. Porque estas mudam e o saber ou forçar essas alterações é da máxima importância numa sociedade.
Há depois a ‘história’ do impossível sobre o qual, ‘falando mal e depressa’, convém dizer que se nos guiássemos pelos seus desígnios, ainda hoje andávamos de carroça. São vários os ‘impossíveis’ que aconteceram nos últimos anos. Todos se tornaram realidades. Com todos convivemos no nosso dia-a-dia. É irrealizável uma safety net ao invés da Segurança Social que temos hoje? É impraticável cada escola ter o seu próprio programa escolar, ao invés de um único que a todos se impõe? É inexequível as escolas serem privadas e o Estado conceder vouchers aos alunos? Não. É apenas difícil e complicado. São reformas custosas e dolorosas, mas nunca impraticáveis. Ademais, a sua aplicação leva ao fim de várias injustiças. Perante isto, qual é a força dos ‘impossíveis’?
por André Abrantes Amaral @ 2/02/2006 11:28:00 da manhã
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