3.1.06

Solidariedade de arrasto

Francisco Louçã considerou que a transformação dos hospitais em empresas, instituída por decreto-lei quinta-feira, abre caminho para a privatização do Serviço Nacional de Saúde(...)
"Um bom serviço de saúde assenta em os centros de saúde terem uma retaguarda técnica e qualificada nos hospitais. No dia em que ele for privado, evidentemente teremos uma saúde para os ricos e uma saúde para os pobres. Isso não é aceitável, é anti-democrático e é uma forma de destruir o princípio elementar de solidariedade", concluiu.

Não passa pela cabeça de Louçã, que o estado não seja monopolista na prestação de serviços de saúde e assegure, a todo o custo, a sua universalidade. Para ele, não é concebível um sistema em que não sejamos todos tratados igualitariamente e que possa, ainda assim, cuidar dos menos afortunados. Como bem referiu o André, "seria preferível que todos pagassem menos por um serviço de safety net de que apenas alguns beneficiariam".
Numa coisa Louçã acerta: hoje o estado oferece os mesmos serviços de saúde aos ricos e aos pobres (e o mesmo serviço de prestações sociais). Não diferencia; a todos trata menos bem. As queixas que a imprensa recorrentemente ecoa, são contra os serviços prestados pelo modelo defendido por Louçã e por quem como ele pensa.
Para ele, será essa solidariedade forçada, nivelada por baixo, que é democrática. Será ela que ao invés de garantir uma rede de segurança para os que não se conseguem valer a si próprios, dispersa recursos por todos. A protecção estatal, com pagamento mensal obrigatório, estende-se aos que dispondo livremente dos seus rendimentos, responsabilizando-se pelo seu futuro e o da sua família, podem e querem segurar-se contra infortúnios.
Essa solidariedade defendida por Louçã não é uma rede protectora dos mais fracos. É uma, pouco eficaz e eficiente, rede de arrasto.