Manifs no sítio certo

A propósito de uma manifestação de protesto contra o asassinato de 360 portugueses na África do Sul, o Luis Rainha sugere que os manifestantes deveriam ser financiados por uma "alma caridosa" para "desembarcar no Soweto e fazer a manif no sítio certo". Ora esta sugestão deixa-me perplexo por duas razões, que tentarei explicar de seguida.

Em primeiro lugar, estava convencido de que a África do Sul, desde que o ANC se instalou no poder, era um país democrático, tolerante e respeitador dos direitos individuais. Estranho portanto que o Luis Rainha implicitamente sugira que uma hipotética manifestação desse género seria pior recebida na África do Sul do que, por exemplo, as inúmeras manifestações (geralmente micro-manifestações em participantes e macro em cobertura mediática) de defesa dos "direitos dos imigrantes" que se realizam regularmente em Portugal, muitas vezes sob o alto patrocínio de organizações de extrema esquerda.

Em segundo lugar, não me recordo de ter lido o Luis Rainha a fazer sugestões de transladação semelhantes quando se trata de manifestações de militantes feministas, ateus, anti-globalização, ecologistas, pró-aborto e afins. É no mínimo curioso que os activistas dessas causas radicais-chic (que por feliz coincidência constituem a larga maioria da agenda declarada do Bloco de Esquerda) só tenham por hábito mainfestar-se no Ocidente capitalista e nunca, por exemplo, em países como a Arábia Saudita, o Irão, Cuba, a Coreia do Norte ou a China. Por que será?