28.1.06

Os liberais, a utopia e a passarada

We must make the building of a free society once more an intellectual adventure, a deed of courage. What we lack is a liberal Utopia, a programme which seems neither a mere defence of things as they are nor a diluted kind of socialism, but a truly liberal radicalism which does spare the susceptibilities of the mighty (including the trade unions), which is not too severely practical and which does not confine itself to what appears today as politically possible. Unless we can make the philosophic foundations of a free society once more a living intellectual issue, and its implementation a task which challenges the ingenuity and imagination of our liveliest minds, the prospects of freedom are indeed dark. But if we can regain that belief in power of ideas which was the mark of liberalism at its best, the battle is not lost.

F.A. Hayek Studies in Philosophy, Politics and Economics, p194
Ainda que separados por variadas questões (que para quem olha de fora podem parecer menores) o princípio comum que une os liberais de tradição clássica é a defesa intransigente das liberdades individuais. Confesso a minha dificuldade em ver nesta proposição qualquer vestígio de autoritarismo ou paternalismo.

A existência de utopias não, é ao contrário do que o PPM parece sugerir, condenável. Estas servem-nos como princípios últimos pelos quais devemos guiar e avaliar as nossas acções. Julgo não errar quando digo que a cada indivíduo corresponde uma ideia particular do futuro. No fundo, um plano individual. Este só se tornará condenável se, a sua conclusão, implicar o sacrifício das liberdades individuais de terceiros.

Não procuramos, como os revolucionários franceses, o “homem novo” mas o homem comum. Não pretendemos arrasar o passado e construir, no seu lugar, um “mundo novo”. Apenas queremos que seja dado (ou antes, devolvido) ao homem a capacidade de decidir sobre o seu futuro. Se algumas instituições perdurarem e outras foram abandonadas tal deve poder ser atribuído às escolhas individuais e não a imposições superiores. A regra deve ser a associação livre e não à “associação à força”. É claro que nada garante a inexistência de erros e retrocessos. Não partilhamos a visão marxista da história. Contudo, confiamos que as escolhas individuais serão por regra melhores que escolhas centralizadas e outorgadas por políticos iluminados e que não se deve desresponsabilizar o individuo.

Diz o PPM que com isto “assustamos a passarada". Não estando mandatado para responder por nenhum colectivo parece-me seguro afirmar que os liberais blogosféricos procuram expor com clareza as suas ideias (ainda que no meu caso limitado pela capacidade de exposição). Se, com isto, espantamos potenciais aderentes (algo que não posso com segurança confirmar ou desmentir) resta-nos o conforto de que, pelo menos, não podemos ser acusados de dissimular os nosso “perigosos” desideratos.